Toda a poesia de Odemir Tex Jr.
[caption id="attachment_4199" align="aligncenter" width="580"] Tex também fundou uma editora dedicada à confecção de trabalhos com papelão, a Estrela Cartonera, pela qual lançou seu último trabalho, “Uma Nova Didática do Olhar”, em 2013.[/caption]
Dizem que não há poeta que não seja, ao mesmo tempo, um profundo filósofo. Um exemplo é o Odemir Tex Júnior, recentemente empossado como mais novo membro da Academia Santa-Mariense de Letras, ocupando a cadeira nº 36, cujo patrono é Raul Bopp.
Sua poesia usa a simplicidade do cotidiano para expor temas densos, pesados como chumbo, mas que se transformam em leveza pura pela escolha absolutamente certa de cada frase, de cada palavra, de cada letra em busca da emoção correspondente. Algo assim como um elefante que flutua no ar. E laranja. Da mesma cepa de D’Oliveira e Veppo. Simplesmente, magnético.
Para quem ainda não sabe, Odemir Tex Jr, ou Tex para seus inúmeros amigos, é poeta e escritor nascido na Mata há 35 anos e radicado em Santa Maria já há um bom tempo. Ele tem na bagagem mais de uma vintena de prêmios literários em prosa e verso, e em vários estados, além de ter publicação de sua autoria em uma das mais importantes revistas de poesia e arte contemporânea brasileira, a Mallamargens.
É coautor dos livros Santa Invasão Poética, O Maquinista Daltônico e O Gol Iluminado; e também autor das poesias de Esta Insólita Província.
Tex também fundou uma editora dedicada à confecção de trabalhos com papelão, a Estrela Cartonera, pela qual lançou seu último trabalho, “Uma Nova Didática do Olhar”, em 2013.
O livro é totalmente artesanal e contém poemas empacotados em um libreto de 44 páginas, sendo que cada capa da edição é única, sem cópias e vem embalada em uma carapaça de papelão.
O Jornal da APUSM publica nesta edição, “O Equilibrista nas Nuvens”, poesia premiada no 47º Festival de Música e Poesia de Paranavaí, realizado no Estado do Paraná, em 2012, com o Troféu Natividade de Poesia, conhecido como “Barriguda”.
[caption id="attachment_4198" align="aligncenter" width="640"] Ilustração reprodução[/caption]
O EQUILIBRISTA NAS NUVENS
de Odemir Tex Jr.
1. corro sobre as cordas
que suspendem
a insensibilidade dos dias
percorro este desequilíbrio
repetitivo dos ingredientes
nos quais germinam os pães
entre os trigais do trabalho.
(a medida entre os passos
que declaram nossa saída à porta
e o retorno ao leito sonolento
das noites, é um extinto brinquedo
perdido entre olhares de adeus)
2. teço forcas como quem
sonha tranças. Rezo um terço
para renascer no mesmo milagre
que compõe minha parte na multidão
e nas feridas expostas sob as marquises.
habita em mim uma vontade
de roer o dinheiro e o desdém. Beijar
as correntes do cotidiano
contra as limalhas e as agruras do aço
(pela mesma desrazão que o verde
insiste em brotar na rachadura do asfalto,
pelo mesmo amor que nega a eternidade,
o dia-a-dia implora maior ar e espaço).
3. quando acordo, o dia me atravessa
como um rio desesperado. Sustenta-me
na enchente das impossibilidades
estas cordas invisíveis entre nuvens,
que na ousadia do equilíbrio
- contra os labirintos e as náuseas -
amorosamente chamamos de sonhos.