Os desafios da mobilidade para professores universitários

Há cerca de cinco anos, ver alunos usando celulares nas salas de aula era motivo de debate e revolta entre professores. Já hoje, com o crescimento do acesso a esses dispositivos e o aumento da capacidade de conexão móvel, a realidade é outra.

Nos Estados Unidos, 68% dos usuários de smartphones com idades entre 18 a 34 anos não consegue ficar mais de uma hora sem checar o celular, segundo pesquisa da Lookout, uma empresa de segurança mobile. Esse fenômeno tem até nome: nomofobia. Aqui no Brasil, 56% dos internautas brasileiros navegam por meio de smartphones e passam cerca de 84 minutos por dia com o dispositivo (a média mundial é de 74min/dia). O que antes gerava descontentamento, hoje promove o compartilhamento e a inovação para o uso da mobilidade em sala de aula. Sendo assim, uma pergunta fica no ar: o que ainda falta para que smartphones e tablets sejam aceitos e adotados como meio de facilitar o ensino?

A Unesco montou, ainda em 2013, um guia com 10 dicas e 13 motivos para se adotar o uso de celulares em sala de aula. Mas o receio de incluir os aparelhos e perder o foco dos alunos ainda é muito grande. E parte disso está diretamente relacionado à falta de preparo e conhecimento dos próprios educadores, por não saberem como lidar com a presença dos smartphones e tablets em sala de aula. Mas isso tem que ser superado o quanto antes, visto que o número de aplicativos para celular cresceram 203% só em 2013. Além disso, gadgets anteriormente criados para facilitar a vida dos professores em sala de aula já estão sendo substituídos por aplicativos para smartphones. Um exemplo é o clicker, um aparelho criado para que os professores fizessem enquetes com os alunos e que se tornou completamente obsoleto em função de aplicativos como o gratuito Polls (polls.bb), que fazem o mesmo pelo celular.

Existem ótimos exemplos de instituições brasileiras que deram todo o suporte necessário para que professores passassem a utilizar mais (e melhor) a tecnologia móvel em sala de aula e conseguem dinamizar o tempo do aluno, trabalhando com exercícios, conteúdo e serviços via mobile. Insper, IESB e Anhembi Morumbi, por exemplo, têm obtido bons resultados tanto quanto à participação dos alunos como quanto à adoção dos gadgets pelos professores. E isso de maneiras diferentes, de acordo com a modalidade da aula (se presencial ou a distância) e com o perfil do professor.

A chamada técnica da ‘sala de aula invertida’, por exemplo, funciona muito bem quando aliada a dispositivos móveis. Os alunos podem fazer vídeos sobre os pontos que mais os intrigam e partilhar com a turma para que os professores direcionem o conteúdo das aulas para solucionar as dúvidas. Já no modelo de aula convencional (em que o professor é o detentor do conhecimento e define as estratégias de aprendizagem), os docentes devem se aliar aos designers para desenvolver conteúdos acessíveis pelo celular. As aulas devem ser montadas como roteiros que contemplem vídeos, podcasts, mapas conceituais, temas para debates em webfóruns e conteúdos escritos que podem ser acessados tranquilamente pelos smartphones. Afinal, existem diferentes perfis de aprendizagem e é possível utilizar recursos diferentes que facilitam o processo de aprendizagem de cada aluno.

Se o aluno fica muito tempo no trânsito, por exemplo, é provável que ele utilize esse tempo para estudar. Então, por que não fazer áudios explicativos com o conteúdo das aulas? E aqueles alunos que preferem assistir aos conteúdos no transporte público? Eles podem se beneficiar bastante de vídeos. Os webfóruns também podem ser um ótimo ponto de encontro, tanto para sanar dúvidas quanto para que cada aluno exponha sua opinião e experiência com algo relacionado à matéria.

As oportunidades de integração dos celulares em sala de aula são muitas e vão muito além de simples notificações. É importante que, como afirma o professor Janes Fidelis Tomelin, um dos entusiastas da mobilidade educacional na Anhembi-Morumbi, “haja uma convergência entre metodologia e tecnologia”. Durante muito tempo, a metodologia estava restrita aos recursos tecnológicos. Hoje os recursos são variados, mas, mesmo que a tecnologia tenha avançado, a metodologia não avançou na mesma velocidade. A questão é: que nova metodologia podemos utilizar, hoje, para fazer melhor uso dessa tecnologia?

Fonte: PAVLOS DIAS - PORVIR 

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