O “novo” vestibular, por Celina Fleig Mayer
Foi com surpresa que os pré-vestibulandos (agora pré-ENENS) receberam a notícia das mudanças para conseguirem uma vaga na UFSM. O primeiro anúncio, dos comandos da Universidade, referia-se ao novo tipo de Redação que seria solicitada. Foi aí que fiquei “sem emprego”, pois uso um método de dissertação aprendido com a saudosa Profa. Águeda Brazzalle Leal. No entanto, nem deu tempo de arquivar meus polígrafos e nova ordem baixou dos altos próceres da Universidade.
Voltaram meus polígrafos à ativa. A Redação do ENEM é uma dissertação. Lembro aqui de um aluno que, ao abordarmos um tema polêmico (como parece ser esse do ENEM, substituindo o Vestibular), o estudante não teve a mínima dificuldade em se posicionar sobre o que foi proposto, dando a sua opinião na primeira linha, sem ao menos dizer do que trataria. Tema bem diferente, desse aí que está causando tanta celeuma, PENA DE MORTE foi solicitada com alguns dados sobre os motivos de muitas pessoas serem a favor e outras tantas, contra. (Aqui dá para fazer uma analogia: não deixa de ser, para alguns estudantes, uma “pena de morte” essa nova ordem decretada sobre o ENEM-total para conseguir uma vaga no ensino superior). Só então, o pré-vestibulando deveria se posicionar, o que não tem mais analogia nenhuma...e o meu aluno, muito afoito, talvez com raiva da insegurança que crassa por aí, escreveu direto: “TEM QUE MATAR, referindo-se aos fora da lei. Não foi fácil convencê-lo de que antes precisaria argumentar, respeitando o que pensam outras pessoas. E a proposta era bem clara, com os argumentos favoráveis e desfavoráveis e suas motivações, para ele analisar. O resumido “tem que matar” até poderia aparecer, não tão ostensivo, mas só depois de chegar a vez do rapaz opinar, em parágrafos subsequentes.
Alguém usou, como argumento contra as provas do ENEM, aquela redação classificada, de algum tempo atrás, do Exame Nacional, que divulgava uma receita de Miojo. Expliquei que, talvez, de um jeitinho safado e bem escrito, o autor ou autora, tenha conseguido ligar o tema fome, solidão, falta de opção para o futuro, com esse alimento nem tão recomendado, mas que quebra o galho de qualquer cozinheiro nota zero. E com pouco dinheiro. Penso que o trabalho deveria ter sido publicado, para evitar a discussão que causou, confirmando que se tratava de piada acintosa e, assim mesmo, classificada, ofendendo o padrão normal de conhecimento dos demais candidatos. Além de desmoralizar o ENEM. Discutiu-se muito em cima do não totalmente esclarecido. E nós sabemos: quem lê bastante, o quanto são criativos àqueles que conseguem “brincar” com as palavras, ou seja, bons de escrita.
Vai daí que o Miojo tenha sido inspirador...
*Celina Fleig Mayer é jornalista e escritora