Estes pioneiros e suas histórias: Julio Colvero e o legado da Educação

  [caption id="attachment_4656" align="aligncenter" width="640"]Foto Lorenzo Franchi Foto Lorenzo Franchi[/caption]   Filho da “Dona” Araci e do “Seu” José Garibaldi, o professor Julio Cezar Colvero é um santa-mariense de 80 anos, nascido e criado no Passo D’Areia. “E com muito orgulho!”, como ele mesmo ressalta. Ele também é uma espécie de lenda entre os docentes da UFSM. E por várias razões. A primeira é aquele jeitão de gaúcho, duro, às vezes ríspido, mas que na primeira “charla” já fica explícito ser portador de um grande coração. A segunda é pela grande capacidade de transmitir conhecimento, qualidade considerada ímpar por todos seus colegas e alunos. E a terceira é ele ter sido mais uma vítima da ditadura militar ao ser preso “preventivamente”, dias antes do golpe de 31 de março por ser um sargento legalista do Exército brasileiro. “Eles estavam certos. Iríamos reagir”, confessa o professor. Nesta entrevista ele relembra sua alfabetização, seus primeiros estudos, a ida do pai à Tupanciretã para ocupar um bom posto de trabalho, a volta para Santa Maria com objetivo dos filhos terem oportunidade de estudo e, é claro, a criação da UFSM. E é este ponto de sua trajetória de vida que destacamos: a visão dos primeiros alunos da Universidade que, logo depois de sua diplomação, se tornaram os primeiros professores formados e oriundos da própria Universidade Federal de Santa Maria.   Outros tempos, outra alfabetização        Minha mãe começou a me alfabetizar, aos cinco anos, com figurinhas no chão da nossa casa. Com seis anos eu já tinha um bom conhecimento. Depois, fui estudar com a professora Tereza Niederauer, lá na escola que havia perto do Arroio Cadena. Só que caderno não existia, era raro naquele tempo. Havia era a louça: se escrevia português de um lado, matemática do outro e depois se apagava para outra lição. Você tinha que memorizar tudo.   Curso Superior em SM Inscrevi-me para dois cursos no Concurso Vestibular: Direito e Administração. Passei nos dois com boa colocação, fruto de meus estudos básicos, mas Direito era pago e Administração era gratuito. Fui para Administração, sendo que as primeiras aulas eram junto ao prédio da Engenharia. E mais, era uma beleza ver aqueles primeiros tempos da UFSM. Veja o meu caso, se não houvesse ônibus de graça para o campus, em Camobi, eu não poderia me formar em um curso superior por absoluta falta de dinheiro. E isto sem falar muito na grande capacidade dos nossos professores em transmitir conhecimento. Nós, alunos, nos motivávamos muito com isto, com aquela troca de experiências com os professores. Destaco o professor Danilo Landó (que foi criador do curso, uma inteligência rara que trazia muitas novidades, dividia seus projetos). Estavam lá também o Pedro Aguirre, o Guilherme Arends, o Marco Aurélio Krobs, Carlinhos Costa Beber e o Renato Lenz, entre outros. Era uma turma grande. Foram tempos maravilhosos para todos nós.   O dissidente político e o dedo-duro Quando comecei o curso, não tinha Certificado Militar. Só um documento de rescisão no Exército. Eu era um dissidente político e, conforme as normas vigentes na época, não poderia estar estudando em uma universidade federal. Pois não é que aparece um dedo-duro (me contaram quem foi) da ditadura e faz uma denúncia oficial na coordenação do Curso. Buenas, o Krobs (que era coordenador na época) recebeu o papel e logo chamou o Renato Lenz (que era presidente do Diretório Estudantil) e expôs o problema. O Renatinho não se intimidou, reuniu os estudantes, me deu cargo no Diretório, falou para os quatro cantos que eu era indispensável e ainda foi falar com os milicos que eu já tinha deixado daquilo, que não me metia mais em política. Enfim, fiquei. Devo aos meus professores e colegas a minha formação em Administração.   O legado dos educadores A Universidade de hoje, como a própria cidade, é reflexo de grandes educadores que tivemos em Santa Maria. Nomes como de Maria Rocha, Alba Belém, América Achutti, Kátia Colussi, Professor Eladim, Professor Celestino e Agueda Brazzalle Leal, entre tantos outros que agora não me vêem, propiciaram uma formação diferenciada que levaram a cidade ser a primeira do interior do País com uma universidade. Se não, seria somente um sonho do Mariano sem terra para germinar.    Uma universidade para Santa Maria Quando falaram que sim, haveria uma universidade em Santa Maria, o pessoal enlouqueceu. Muitos não acreditaram. Acontece que o Mariano era um grande líder. Por exemplo: quando foram criar a Faculdade de Veterinária, nós estávamos na frente do Café Guarani e professor Mariano viu passando o Flavio Martinez, então major da Brigada Militar, e o chamou: “Professor, precisamos do senhor, hoje, na nossa universidade”. Não é que depois do susto o Martinez vai para Porto Alegre, larga a Brigada e vem ser professor em Santa Maria. O Mariano era assim, trazia as pessoas para construir o seu sonho.   Confira abaixo a entrevista na íntegra com o professor Julio Colvero:   [youtube height="480" width="640"]https://www.youtube.com/watch?v=NkASDSvaIUc[/youtube]    

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