Crônica: Morangos Vermelhos, por Máximo José Trevisan
[caption id="attachment_4591" align="aligncenter" width="450"] Reprodução Task[/caption]
Máximo José Trevisan *
Há algum tempo, em programa de tevê, ouvi o psiquiatra João Lino Rodrigues dizer: “Só há uma forma de não envelhecer: morrer jovem!” Ainda hoje lembro essas palavras e vejo que a razão estava com ele: só é velho quem gozou o privilégio de viver bastante! Tomava chimarrão (era domingo, de manhã!), e passei a me perguntar: viver bastante, mas para quê? Apareceram algumas respostas, mas não descobri outra mais simples: viver para ser feliz!
Há motivo maior para justificar uma longa vida se não para ter mais tempo de concretizar sonhos, em que até os menores e os mais íntimos tenham voz e vez? Utopia?.. Mas alguém consegue viver feliz sem um sonho por realizar, um amor para viver? Onde começa ou quando termina a sabedoria de envelhecer? A superficialidade do nosso tempo não mata, mas muitas vezes deforma quando não nos deixa entender a própria idade construída de momentos únicos, irrepetíveis e especiais.
Amar a vida, quando a juventude escorre de todos os poros, é uma coisa. Amar a vida, quando a pele está enrugada e a dor não é figura de retórica, mas companheira real e presente em (quase) todos os dias, isso exige muito de lucidez e atenção de cada um.
Envelhecer, sem gostar de viver, é morar à beira-mar, sem gostar de sol. Amar-se é outra condição imprescindível para viver bem por longo tempo! A vida oferece muitas surpresas. A vida é uma grande surpresa!..
Um dia destes li uma estória zen: “Um homem ia pela floresta quando ouviu um rugido terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e pôs-se a correr. Mas a floresta era densa, e o sol já se estava pondo. Não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero, agarrou-se a um galho que se projetava sobre o abismo e lá ficou. Foi quando, olhando para a parede do precipício, viu uma pequena planta que ali crescia. Era um pé de morangos. Nela havia um morango vermelho. O homem estendeu o braço e colheu a fruta. Comeu-a prazerosamente.”
A estória termina assim. Não conta se o homem se salvou ou não. Importa saber? Fico a pensar naqueles que o mundo endeusa: os heróis sem medo, os vencedores. Mas, se o homem da nossa estória não tivesse tido medo, certamente não teria corrido; se não tivesse corrido, não teria caído no precipício; se não tivesse caído, não se teria agarrado a um galho; se não tivesse se agarrado, não teria visto a pequena planta e colhido a oportunidade e a experiência de comer um morango vermelho à beira de um precipício!..
A vida está cheia de densas florestas e de leões, de precipícios e de morangos. Por que viver? Como viver? Para que viver? Certos momentos parecem morangos vermelhos pendurados em planta frágil, na parede de um precipício. A vida e a morte são mestras em ensinar essa lição. Às vezes, temos dificuldade em aprendê-la, mesmo quando, agarrados a um galho no precipício, vemos à frente, ao alcance da mão, um morango vermelho pronto para ser saboreado!...
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