"As Sobrancelhas do Sr. Reitor", crônica de Celina Fleig Mayer
Celina Fleig Mayer
Convidados para o churrasco de aniversário da Presidente da APUSM, Tânia Silva, numa noite de outubro de 2014, tivemos a satisfação, para não dizer sorte, da companhia, numa mesa ao acaso, de Quintino Oliveira, Roberto Bisogno e Adarci Antoniazzi. Se ficássemos apenas com o Quintino e outros conhecidos, a noss a satisfação também também seria enorme, porque o Quintino é, na verdade, o maior comunicador que Santa Maria já teve. Mas, com o aval do Roberto, as histórías narradas pelo amigo, transformavam-se em verdadeiras lições de História da UFSM que mereciam,obrigatoriamente, serem escritas para a posteridade. Quando Quintino relatava algo – e sempre avisando, nos vieses que fazia, que “isso aí é um outro caso”, desenvolvendo o fato, o outro acrescentava mais um pouco. Foi então que ficamos sabendo que,em muitas das reuniões que se fez até que aquele gigante se erguesse e hoje é uma Universidade,ocupando um lugar muito destacado entre todas do Brasil, tinha um personagem que merece a veneração de Santa Maria. Trata-se do idealizador e fundador, o Dr. Mariano da Rocha Filho – um homem que eu nunca tinha visto sob o prisma que eles nos revelavam. E entre risos e rememorações, mas sempre enaltecendo o primeiro Reitor, no maior respeito, um contava – o Quintino, e o outro confirmava, o Roberto, quando o Adarcy também aumentava o relato com algo novo e que só fazia com que nos deliciássemos com histórias enciclopédicas. Mariano da Rocha não conhecia empecilhos, sonhava e ia em busca do que achava melhor para que a Universidade se concretizasse naquele campo que lhe foi doado por uma tradicional família de Camobi. A parte mais cômica, Quintino e Roberto se encarregaram de lembrar: quando havia uma reunião com o Dr.Mariano, e todos tentavam mostrar soluções inteligentes, ele ficava silencioso, como que alheio ao que os outros falavam. Mas, lá pelas tantas, pedia a palavra, colocava as mão nas sobrancelhas (cerradas, um detalhe que Quintino fez questão de frisar)- e, de uma delas arrancava um fio. Daí dava sua solução, exatamente correta, o que deixava o grupo pasmo, já que tinham gerado longas conversas e divergências sem chegar a um consenso. Sua inteligência e perspicácia eram seu grande trunfo, e o que ele sugeria, fechava exatamente com o que deveria ser feito, numa simplicidade que só os sábios percebem.
Foi uma noite de churrasco, confraternização e aprendizado. Descobri que o Dr.José Mariano da Rocha Filho fez muito mais do que alguém possa descrever, e teve uma capacidade prodigiosa de se sair com brilhantismo de qualquer “saia justa”, com uma desenvoltura só possível aos bem-aventurados.
Depois desse jantar de aniversário, passei a valorizar o fato de ter frequentado e me formado numa Faculdade da UFSM do Dr. Mariano. Duvido que no Brasil inteiro se encontre histórias, relatos e provas de persistência e visão de alguém que tenha sido pioneiro em “inventar” uma Universidade no interior de um Estado. Mais, passei a reverenciar a figura de um homem que, se nascido na Idade da Pedra ou daqui um século, teria se sobressaído ou se destacaria de qualquer forma. Ele não foi um comum mortal. Teve um sonho, absurdo para muita gente da sua época, mas nada o deteve, em tempo algum em nenhuma circunstância, segundo a agradável narrativa de Quintino, coadjuvado pelos outros dois colegas. O fundador e primeiro Reitor da UFSM foi a prova de que não existem barreiras para os persistentes e destemidos, para não dizer “teimosos”, no sentido de acreditar em si mesmo, contra toda a corrente. E, quanto às suas sobrancelhas, nunca se ouviu falar que tivessem escasseado ou aparentassem algumas falhas...frisou bem,o Quintino. E Marianinho teve motivos de sobra para cultivar seu cacoete em centenas de ocasiões...