Altamira – da ingenuidade chocante à decadência humilhante... - Um artigo da professora Eloisa Antunes Maciel

[caption id="attachment_10175" align="aligncenter" width="640"]Foto reprodução internet Foto reprodução internet[/caption]

Uma reflexão sobre causas e efeitos da marcha para o leste.

  *Eloisa Antunes Maciel Início dos anos setenta. O pais ainda estava sob a vigência do Regime Militar instaurado nos anos sessenta. A época era marcada por uma propalada euforia sobre o papel da Rodovia Transamazônica no “desbravamento” da região reconhecida como sendo de extrema carência de apoio sócio-cultural – este presumido como vetor eficaz para a promoção – ou pelo menos- o “arranque” eficaz ao desejado desenvolvimento dessa desprovida região do país. E as iniciativas otimistas (embora flagrantemente ingênuas) foram objeto de incipientes iniciativas por parte de alguns setores de universidades como a UFRGS (RS) e a USP (SP).  E as cogitações – iniciadas por convites a especiais a concluintes dos cursos em nível de Mestrado e Doutorado se somavam à disposição de professores efetivos dessas instituições – os quais se dispunham a atender determinado convite dos governadores de Rondônia e outros territórios, compartilhando o objetivo de prestar assistência (preparo/treinamento a professores desses territórios) ante a possibilidade de capacitá-los – minimamente – a contribuir para a realização do sonhado desenvolvimento sócio - educativo da população dessa área em “descoberta e expansão”, presumida futuro núcleo de desenvolvimento do extremo norte do País... Essa cogitada atuação, portanto, seria um impulso positivo a que os territórios viessem a prestar uma assistência continuada a essa então denominada “iniciativa pioneira”- considerada como promissora e altamente compensadora... Como eu estava finalizando os créditos do Mestrado a que estava vinculada, aceitei o convite – não sem ponderar sobre o que me seria atribuído em termos contribuição e desempenho junto aos futuros agilizadores de um processo ativo e permanente do pretendido desenvolvimento da então considerada “célula promissora” desvelada pelo avanço da Transamazònica – a pequena localidade denominada Altamira - situada à margem esquerda da rodovia em perspectiva... Nosso destino foi Porto Velho, capital do então Território Federal de Rondônia. Coube aos professores convidados (sem vínculo funcional com a universidade, entre os quais eu me incluía)            firmar um compromisso com um professor efetivo da sua área de atuação, o qual assumia a  condição de “tutoria” do convidado, devendo acompanhar, avaliar e, se necessário,  redimensionar o foco de atuação do tutorado. Minha tutora foi eficaz, discreta e incentivadora de minha atuação. Desenvolvi minhas atividades sem entraves ou dificuldades inerentes à função. Nosso coordenador geral, sempre atento, mantinha diálogos freqüentes com toda a equipe e se colocava à disposição de cada um, em particular. Sua experiência em atividades de extensão, ao longo dos anos, o capacitara a exercer com mestria essa função. Permanecemos em Porto Velho cerca de um mês, sendo que nossa atuação se estendia ao período noturno, em casos de necessidades evidenciadas. Findas nossas atividades, estivemos cerca de mais dois dias em Porto Velho, podendo dispor desse tempo para conhecer a realidade além do território, se assim o desejasse, desde que essa decisão fosse informada ao Coordenador. Foi o que fizemos – eu e um casal – professores efetivos da UFRGS – uma vez que os denais colegas pareciam haver esgotado seus trocados em lazer noturno diário – o que eu não tive chance de fazer, uma vez que minha carga horária era uma das maiores e geralmente se estendia ao período noturno. Decidimos alugar um taxi para percorrer o que eu denominaria de “esboço” da Rodovia Transamazônica. Nosso destino foi o núcleo de atuação que funcionava próximo à localidade de Altamira – uma espécie de “postão” de atendimento improvisado que atendia preferencialmente os então habitantes cessa localidade. Nossas surpresas se iniciaram tão logo o taxi atingiu o “leito” da rodovia em construção, barro denso, margens aparentemente semi-desmatadas, pequenos mamíferos assustados que pareciam fugir ao avistar a presença de “pessoas estranhas”... 12212418_864299270333934_601935062_n Nossas ilações sobre as possíveis resultantes desses atos foram a um só tempo, dúbias e “proféticas”... Altamira, assim como outras comunidades semelhantes, poderia estar fadada a uma solerte decadência em termos de valores comunitários saudáveis... E sofrer o também solerte “assalto” de exploradores, como traficantes e outros aventureiros gananciosos, pois sua “chocante ingenuidade”, aliada ao analfabetismo (em todas as acepções deste termo) estaria a propiciar essa degradação também chocante... Lamentavelmente parece ser esta a realidade que atualmente é noticiada pela imprensa através de seus diversos canais. Lamentavelmente...   *Eloisa Antunes Maciel  é professora aposentada da UFSM e associada APUSM.

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