Velhice envelhecida

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O envelhecimento populacional no Brasil, embora previsto, surpreende a todas e a todos, velhos e não velhos. A vontade de tornar a velhice em eternidade, se percebe, quando a denominamos de: melhor idade. Como um curativo paliativo, frente a uma hemorragia da aorta, alivia a sensação de uma impossibilidade, a imortalidade. Dessa forma, velhas(os) se debatem, pois, muitos descobrem nesta etapa da vida o que deixaram de viver, ou do que não pretendem abandonar.

A idade é fruto do tempo, e o tempo veio com o defeito de não ter como acionar o movimento contrário. Em sonho e ficção tudo é possível, e como a ficção tem se tornado realidade, quem sabe, um dia como anunciou Einstein, há, hipoteticamente, a possibilidade, ainda não exequível, de retornar no tempo. Restando a constante atualização da mente, já que em sua instância predominante é conceitualmente atemporal, a possibilidade de circular entre presente, passado e futuro.

Mente livre é mente saudável, mente pressionada se torna ultrapassada. E a velhice, circulando entre um palpite e outro, nada resolutos, inspira ações e estilos, para a vontade de deliciar o que ainda não foi experimentado. Saudável tentativa, porém, ainda, enquanto delineada pelo esboço do consumo e de uma reação reparadora, se mostra semelhante a compulsão, como se o “foda-se”, fosse a solução.

Pode ser que seja assim, pode ser que não, no terreno do envelhecimento, por pouco se saber tudo se propõe. Sinalizando que há vida e muita, no entanto, ainda em forma de procura do que ninguém sabe o que e como aproveitar, nem se há algo além do que já é desfrutado. À espera, quem sabe, de alguma descoberta impactante, capaz de encaminhar novidades capazes de expandir ainda mais esta etapa, e de resgatá-la de um enquadramento finito de uma vontade que não perde a vontade de se expressar.

A velhice, não é linda e nem feia, nem melhor, nem pior, do que qualquer período do desenvolvimento humano, no entanto, parece ser uma etapa desconhecida em suas potencialidades e traduzida, simploriamente, como sendo uma etapa desconectada das outras, gerando expressões: agora você pode, considerando, que não haverá outra oportunidade para você se expressar. Implicando na motivação, para que novas perspectivas sejam traçadas inseridas em um novo sentido de vida, como se o que fora vivido até antes do envelhecimento não tivesse tanta importância.

O envelhecimento é uma extensão, é a continuidade do que foi experimentado até então, assim como, aconteceu nas etapas anteriores, quando se deixa de ser criança e a adolescência surge, o que acontece é que a mente muda e com a percepção ampliada, naturalmente novos panoramas aparecem. Na velhice envelhecida, o que se percebe é uma tentativa de adequar a mente perante a morte, como se essa não pudesse ser entendida, tornando o limite uma impossibilidade para sonhar e planejar. A velhice, não precisa ser uma virada reativa na vida, que mais causa desconforto e inquietações frente ao que não tem como reverter, a não ser consumir psicotrópicos e leituras de estilos de vida que devem ser questionados se é para esta etapa da vida.

Velhice, parece estar se tornando sinônimo de felicidade eterna e possibilidade de tudo. Sinto muito cara e caro leitora e leitor, isso não existe, no entanto, a liberdade para melhorar a sua forma de viver é uma jornada de autodescoberta, crescimento e realização pessoal. Ao adotar uma mentalidade aberta e corajosa, se pode aproveitar ao máximo as experiências que a vida tem a oferecer.

 

Caio Cesar Gomes

Psicólogo

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