Nem só reparos e festividades

Conexão 60

O envelhecimento está se transformando em uma etapa onde desejos se misturam com lembranças não realizadas. Será que a velhice é a oportunidade de reparar o que ficou pendente? Essa fase é permeada por incertezas, o que torna intrigante explorar o que é o envelhecimento contemporâneo. Estudiosos argumentam que na velhice é permitido fazer de tudo. Mas qual seria o limite desse "tudo"? Considerando que em nenhum momento da vida fizemos "tudo", é importante entender que existem condições, assim como em qualquer outra fase da vida. A tendência que parece prevalecer é a noção de liberdade para desfrutar de prazeres como namorar, beber, dançar e viajar.

No Japão, a velhice é associada à sabedoria, mas enfrenta desafios econômicos para sustentar sua população que envelhece rapidamente. Isso destaca a importância da participação dos idosos na sociedade, que agora precisa de ajuda para superar os desafios que o envelhecimento impõe. O Brasil enfrenta uma situação complexa e desorganizada relacionada à faixa etária da população, indicando que as circunstâncias não foram adequadamente planejadas para lidar com esse fenômeno. O desafio da gestão do envelhecimento envolve diversos aspectos, desde a realização de desejos pessoais até questões sociais, econômicas e culturais.

A aposentadoria por volta dos 65 anos, seguida de uma vida que pode se estender por 35 anos, em alguns casos um pouco mais, gera um impasse nas leis trabalhistas brasileiras, envolvendo conflitos de valores e significados no contexto profissional, pois o tempo de aposentado se iguala ou é maior do que de contribuição. Portanto, é crucial repensar e desenvolver estratégias mais adequadas para lidar com o envelhecimento da população, promovendo uma integração saudável entre gerações e reconhecendo o valor e a contribuição dos idosos na sociedade.

Em nível pessoal pode ter ficado pendente insatisfações, que podem motivar dar as costas às demandas sociais, dando a entender que o envelhecimento é somente despesas para o sistema previdenciário. A população envelhecida poderia contribuir para a geração de políticas públicas com a finalidade de organizar a complexidade que envolve o bem viver desta população integrada com as de outras idades de maneira a potencializar a produtividade e o desenvolvimento do país, de uma maneira que seja adequada às suas condições. Organizar de maneira que a pessoa envelhecida não deixe de ter o direito de se aposentar, mesmo que seja em torno dos 60 anos, mas que existam lugares de ocupação, atrativos, com características que possibilitem a sua realização, supondo que a valorização desta população parece passar pela atividade.

Além da possibilidade de desfrutar de prazeres e de liberdades, como a satisfação de lembranças do que não foi realizado. Celebrações e festividades são viáveis em todas as fases da vida e em cada etapa existem aspectos únicos valorizados, no entanto, a plenitude, em nenhuma delas é alcançável. Sempre fica a falta, e não vai ser na velhice que isso não pode ser entendido. A aceitação da sensação de incompletude tem a ver com a compreensão de que a vida tem fim e de que não se vai fazer de "tudo".

Desfrutar a velhice, quem sabe seja suportar a convivência das lembranças do que realizamos e as que deixamos passar e, desta contabilidade, constar que o tempo que resta importa menos de como estamos participando das circunstâncias sociais.

 

Caio Cesar Gomes

Psicólogo

Gostou do Post? Compartilhe agora mesmo.