Nem mais lindo e nem mais feio, apenas envelhecido
Conexão 60
Quando iniciei minhas reflexões sobre este tema, me parecia tão fácil, pois se trata de uma leveza, no entanto, ao me dar conta desta condição me veio a surpresa da ambiguidade em que estava me envolvendo. Mais do que nunca, o envolvimento com o envelhecimento requer disponibilidade e razoabilidade, pois é um fato social e quando o olhar avança para a subjetividade resplandece a escuridão. Uma dicotomia cognitiva, ascende a reflexão sobre as emoções decorrentes da constatação, eu sou velho! Nem dá para dizer que eu estou velho, pois, da velhice não se abandona, e nem se troca por nada.
Quais são as suas sensações, caso você seja velho (a) ?! Não saberei a sua resposta, portanto, sigo com minhas reflexões. Já me senti desconfortável, agoniado e por alguns momentos quase desesperado.
Velho, é um conceito tão, tão, talvez, desmerecedor para aqueles que estão na vida envolvidos com o que acontece, e disponíveis praticando ações cívicas, políticas, humanitárias, e tantas outras, que qualquer pessoa pode se envolver. Veja que ser velho, é a condição daqueles que avançaram em idade. Não se tornaram especiais e nem imbecis, estão na vida como sempre estiveram, com a vantagem de que podem, nem que seja somente agora, escolher mais acertadamente as suas opções e obter melhores resultados com elas.
A pessoa velha, percorre a jornada da sua vida por mais tempo, em um tempo que lhe parece ser mais valioso e por isso há cautela em cada passo. É neste ponto que percebi a minha ambiguidade, ao me envolver com a autoestima no envelhecimento. No entanto, quando entendi que é a qualidade emocional, a emoção responsável que movimenta a vida em qualquer etapa do desenvolvimento, compreendi melhor porque na velhice, ela pode ter algumas implicações, que lhe dão peculiaridades específicas.
Me esforço em explicações, evitando ser repetitivo ou dissonante dos atuais estudos sobre o envelhecimento, que com a longevidade, num contexto capitalista, atraiu olhares sobre o que ela representa para o Estado. Este assunto, requer outro momento para expandi-lo. O que me esforço para explicar, são as peculiaridades da autoestima no envelhecimento. Em todas as etapas anteriores do desenvolvimento humano, ansiamos atingir a próxima, porque entendemos que é sempre na próxima, que as melhores oportunidades para aproveitar a vida estão alocadas. E, sem surpresa, isso se comprova a cada etapa alcançada.
A criança deseja a vida do adolescente, este a do adulto, e assim por diante. No envelhecimento, envolver-se com as oportunidades que esta etapa nos oferece, implica em se deparar com o período de tempo já transcorrido e, como consequência, com o tanto que ainda resta a ser vivido. Explico a dúvida com que me deparei?! O ritmo, experimentado nas anteriores, e nesta fase, a ênfase da finitude, surpreende o modelo cognitivo, até então utilizado.
Aqui está a confusão! A velocidade com que me desloco no tempo, não determina a velocidade do tempo da existência, é a minha autoestima que determina como aproveito o tempo que tenho. Quando me vejo no reflexo do espelho, não me acho nem mais lindo, nem mais feio, nem mais triste, e nem mais alegre, apenas enxergo ‘eu’ mais velho, movido pelos meus desejos, nem mais e nem menos intensos, apenas movendo a minha esperança de ser cada vez melhor.
Caio Cesar Gomes
Psicólogo