De repente 60, quem sabe mais

Conexão 60

Refletindo sobre a trajetória de vida e os desafios que o envelhecimento traz, é inevitável pensar em como dar continuidade à própria história pessoal. O envelhecimento é diferente de todas as etapas da vida anteriores, mas é somente mais uma etapa da vida e em todas elas há especificidades. Enquanto na infância a dependência e na adolescência a busca pela identidade pessoal são prioridades, na maturidade a sedimentação das conquistas obtidas durante o percurso da vida ganha destaque. No entanto, quando se chega à idade madura, o empenho para manter o que produziu se faz presente. No envelhecimento a noção de tempo se torna mais evidente, alertando para a importância de aproveitar cada momento e ponderando sobre as realizações obtidas. Nem tanto tempo há, pode-se avaliar, mas o bom senso reponde comunicando que ainda há tempo. Nessa fase, a noção de finitude pode ser assustadora, mas também é uma oportunidade para qualificar a vida e favorecer aqueles ao nosso redor a fazer o mesmo. Se nas fases anteriores essa não era uma preocupação predominante, embora não deixasse de existir, nesta é. Involuntariamente o cômputo vital se apresenta e o que você realizou ou deixou de realizar ganha importância. O patrimônio vital é o que mais pesa. O quanto você ofereceu, pode se tornar a renda que mais importa. E, se perguntar: importa ter vivido tudo isso? E constatar que nada disso tem importância ao mesmo tempo. O que realmente importa é o que o que você vai continuar realizando. Por outro lado, nada é mais apropriado nesta etapa, quando averiguada a necessidade de ter de alterar a rota, oportunizar-se outro estilo e sentido de vida. Aprende-se no andar que a rigidez somente impede a curvatura da vara e facilita que ela se parta. Não se trata então de ser essa a melhor ou a mais surpreendente idade, até porque recém se está aprendendo a lidar com ela, mas sim ter a noção de que é a idade em que se pode ser melhor, seja para viver mais um ano, mais cinco, quinze, trinta ou mais, tanto faz. É a fase da vida na qual se pode ser quem realmente se é. É a última oportunidade para não levar consigo a sensação de que não fui eu. Portanto, senhoras e senhores sessenta ou mais, com seus anos bem ou mal vividos, a sua oportunidade de melhor viver a vida é agora. Pouco importa se você olha para trás e enxerga o que não fez ou o muito que fez, continuar fazendo é o princípio da longevidade. Você pode desfrutar de muitas e muitas coisas que nem imagina que existem e mais, você não está impedido de descobri-las. O movimento do corpo anima a mente e a mente animada revigora o corpo. É fundamental entender que essa é a fase da vida em que se pode ser verdadeiramente quem se é, e que cada momento é uma oportunidade para aprender e rejuvenescer. Envelhecer pode ser encarado como um esmaecer da pessoa ou como uma oportunidade de tonificar a vontade e os desejos. Afinal, pouco importa se a teta está caída ou a ereção não mais tão erguida, ainda há muito para ser explorado e descoberto. Por isso, é importante se permitir aproveitar cada momento da vida, sem se prender a rótulos ou estereótipos. Perceber que as diferentes fases da vida são etapas naturais e que somente os alertados podem desfrutá-las, é a chave para viver plenamente. De repente 60 não é nada, para quem pode chegar, pelo menos, aos 90 gozando saúde e muito mais.

 

Caio Cesar Gomes

Psicólogo

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