Amor ao Longo da Vida

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O amor é uma força presente desde a infância até o final da vida, moldando nossos vínculos e nos revelando aspectos profundos de quem somos. Sob a perspectiva lacaniana, o amor é mais do que um simples sentimento; é um encontro com o desejo do outro, uma forma de lidar com a falta que nos constitui. Surge como um fio condutor que se modifica e evolui ao longo das fases da vida, refletindo a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com nós mesmos.

Na infância, amar é uma descoberta fascinante. O amor está na troca emocional com as pessoas dos pais ou cuidadores, que representam as primeiras experiências do desejo. A criança busca constantemente ser amada e acolhida, experimentando as mais ingênuas formas de seduzir e de ser seduzida formando vínculos fantásticos e essenciais para seu desenvolvimento emocional. Amor que transborda em gestos, no desejo de agradar e de ser o centro das atenções, uma fase em que o “amor espelhado” - entendido como um tipo de amor que busca reconhecimento no outro - ainda predomina. A criança ama para ser amada de volta, buscando reafirmação e segurança em um mundo que ainda é novo e enigmático.

Já na adolescência, o amor adquire um caráter explosivo e transformador. É o momento das primeiras paixões, intensas e muitas vezes idealizadas, em que o sujeito projeta no outro suas fantasias mais profundas. O adolescente está em busca de si mesmo e, ao amar, experimenta uma forma de se encontrar no olhar do outro. É um amor marcado pela incerteza e pela oscilação, onde o sujeito busca preencher lacunas de identidade enquanto lida com um corpo em mudança e um desejo ainda confuso. É a fase do amor romântico, do desejo de fusão e, ao mesmo tempo, da necessidade de afirmação da própria individualidade.

Na vida adulta, o amor se torna mais pragmático e seletivo. O indivíduo já possui uma identidade mais consolidada e, muitas vezes, uma escolha amorosa é influenciada por projetos de vida em comum, valores compartilhados e objetivos para serem realizados. No entanto, mesmo nessa fase, o amor é um desafio constante: exige negociação, renúncia e capacidade de sustentar um desejo que, por natureza, é sempre instável. O amor na vida adulta é uma mistura de paixão, compromisso e desejo de continuidade, onde a busca pela segurança e estabilidade se torna mais evidente, mas sem deixar de lado o desejo de ser desejado. Ao chegar à vida adulta madura, o amor adquire uma nova qualidade. É um amor mais paciente, menos voltado para a possessividade e mais para a cumplicidade. Aqui, o sujeito já compreende que o amor é um encontro de faltas, uma troca de vulnerabilidades que se sustenta na facilidade de lidar com as imperfeições do outro. A paixão pode dar lugar a uma intimidade mais profunda, onde o desejo é nutrido pela convivência, pelo respeito e pela construção conjunta de uma história. Amar nessa fase é compreender que a intensidade não desaparece, mas se transforma em algo mais sereno e sólido, em uma parceria que se fortalece com o tempo.

Mas é no envelhecimento que o amor revela sua verdadeira essência. Amar na velhice é um ato de resistência e, ao mesmo tempo, de renovação. O sujeito envelhecido já aprendeu a lidar com as limitações do corpo, mas o desejo de amar e ser amado permanece vivo. É um amor sem pressa, que valoriza a presença e o cuidado mútuo. Amar na velhice é se reconectar com a própria história, aceitar as cicatrizes e as marcas e as alegrias deixadas pelo tempo, como é o gosto e o calor do beijo adolescente ao cair do Sol, enquanto conversa com alguém interessante.

 

Caio Cesar Gomes

Psicólogo

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