‘A vida dá voltas’ é uma expressão um tanto quanto curiosa, pois parece anunciar possibilidades de superação, como sugere a esperança para revidar e até mesmo uma posição passiva a espera de algum milagre que altere o status dos planos da vida atual.

   Certo, no entanto, é que a vida tende a dar voltas àqueles que estão circulando, pois nada acontece não existindo impulsionamentos. Uma vida parada, embora pareça contraditória esta expressão, pois em toda a vida o movimento está implícito, é aquela que se movimenta pelas forças dissipativas gerada pelo deslocamento das outras. Portanto, não está parada, mas, somente se move porque as outras causam condições para tal. Em termos comportamentais, se diz que está sem movimento, porque ela não expressa atitude.

   É pouco provável que uma vida neste estado dê voltas. É mais provável que se enrole no empuxo causado pelo entrosamento dentre uma e outra e, a sua tendência tenderá se a de não desbravar o seu próprio rumo. Não se esperava expressão das pessoas envelhecidas e seus desejos eram causas perdidas, quando não proibidas. “Isso não é coisa pra velhos.” Na atualidade, os anciões e as anciãs, vão em busca da realização dos seus desejos e se esforçam para degustar especificidades, que por razões preconceituosas lhes impediam. Não conseguiam fazer além dos afazeres rotineiros da manutenção de si e a dos seus dependentes, muitas vezes tendo que pedir permissão para sair de casa ou para visitar uma amiga ou amigo.

   A velhice preconceituosa apaga histórias e surpreende quando se escuta expressões como “não acredito que aquela velhinha foi capaz de ter realizado aquilo e aquele velhinho, que lindo seu jeito de ser”. Incrível ter que afirmar que são mais do que velhinhas e velhinhos. São pessoas se descobrindo e se libertando de cadeados imaginários que fecham portas e janelas interativas.

   Com 60+, se tornaram se pessoas conhecedoras de toda uma trajetória da vida e se libertaram de obstáculos mentais e sociais, quando perceberam que cruzaram por todas as etapas evolutiva de uma vida. Foram crianças, adolescentes, adultos, maduros e hoje se reconhecem como gente vivendo como qualquer gente, porém, com a supremacia de que podem transitar por todas elas a qualquer momento, desde que se permitam. Nasceram, cresceram, amadureceram e hoje conhecem as possibilidades de gerar ciclos possível para que a vida dê voltas. Desfrutam de um momento de vida em que a pressa a angústia e o desânimo não necessitam fazer parte das suas experiências. Fizeram o que puderam e são capazes de suportar a ausência do que não foi feito, pois são as faltas que lhe impulsionam para rumarem ao que ainda é possível: fazer a vida dar voltas.

Caio Cesar Gomes

Psicólogo