Texto de Máximo Trevisan
Mãe é detentora de missão consolidada, transparente, matriz de vida. Não é preciso dizer mais, as palavras do elogio trazem consigo as histórias de heroísmo, cantadas em prosa e verso.
Pai nem sempre é Pai, neste tempo de separações frequentes, de rupturas amargas, de partilhas de bem e de afetos quase sempre inconcluídas. Muitas vezes pai é quem sai. Mãe é quem fica com o tesouro e o espólio, com a alegria ou o salvado de incêndio. Mãe é quem permanece para continuar o caminho planejado.
A missão do pai, neste tempo de tantas e profundas transformações, não é um livro pronto, mas um projeto, um esboço. A missão da mãe é obra consagrada, com título aceito e edições muitas vezes esgotadas.
A divisão dos papéis, na sociedade em que se vive, é desigual, dizem principalmente as mães. Machistas, os homens não querem dividir responsabilidades, especialmente diante dos desafios da vida trazidos pelos filhos. Têm elas razão?
Mas, apesar dos pesares, Pai é Pai, com direito a todas as homenagens maiores, no seu Dia, comércio aberto sábado à tarde, cartões de filhos amorosos e não severos. Pai é Pai (é bom ouvir isso, é bom que assim seja).
Descobri ser Pai quando me tornei pai. Antes adivinhava, agora sei o quanto é desafiador, bonito, exigente, glorioso e sofrido ser pai. Assim vejo meu velho querido pai, assim o abracei com ternura, assim o quero perto de mim, neste dia em que Pai é Pai, assim o quis em todos os dias cinzas, azuis, pretos, carregados de nuvens ameaçadoras ou de sol esplendoroso.
Que bom a vida nos dar pretexto para refletir sobre esta aventura de ser e não só estar pai, de ser ponte entre o passado e o futuro, de ser caminho para que os filhos possam andar sobre ele e chegar a Deus e a todos os homens e mulheres do mundo, aventura de ser verdade e vida, no desejo maior da felicidade a que todos têm direito (e dever se buscar).
Mãe é Mãe, merecidamente. Pai é Pai: seremos um dia, merecidamente, em todos os sentidos?
Eu me orgulho de meu pai, homem modesto e bom, homem simples, um século de vida. Eu me sinto feliz por seu testemunho de fé, por seu zelo com os outros. Do seu jeito, cometeu alguns pecados; do seu jeito, cultivou muitas virtudes. Era um homem bom, esse é seu maior título de crédito, essa foi sua maior fortuna.
Por essa e outras maiores e melhores razões, saúdo o meu velho pai, João, pai e avô (pai duas vezes). Ah! se pudesse um dia, no balanço contábil do bem e do mal, da felicidade e da infelicidade, ter o saldo positivo do meu Pai, hoje (e sempre) com letra maiúscula! Nesse dia eu poderia dizer: até pareço uma Mãe! (Meu pai morreu aos 102 anos).