
Celina Fleig Mayer*
Ninguém, ainda, escreveu um Manual de COMO SIMPLIFICAR A VIDA, mas Danuza Leão, conhecidíssima socialite da velha geração, numa entrevista a um jornal, deu as dicas. E, mais importante, exemplificou tudo, através do caminho que tomou para conseguir atingir o mais alto grau de desapego.
Conversando com uma amiga que se mudou para o meu bairro há quatro anos, ela contou que descobriu ter trazido na mudança objetos, roupas e outros bens,sem tocá-los nesses tempo todo. Quer dizer: apegada,e na base de que “um dia vou precisar”, encheu a nova morada de “tralhas que poderiam ter ficado para trás, doadas, vendidas, qualquer coisa. Mas proibidas de seguir o rastro da dona.
Danuza conta que, ao observar seu apartamento de três quartos com uma ocupação desnecessária, decidiu que o que precisaria ia caber numa terça parte daquele espaço. Procurou o apartamento do seu gosto e aí partiu para a seleção. Estendeu todos os livros em cima da mesa, a maioria nunca lidos e pelos quais não tinha o mínimo interesse. Mandou vir o dono de um Sebo, e doou-os. Só ficaram livros muito queridos que ela tentaria reler ou, quem sabe, presentear a alguém especial.
Depois partiu para o imenso closet, totalmente cheio de roupas, quase todas de grife. Sentiu um aperto no coração. Como se desfazer de qualquer peça que lhe caiam tão bem? Separou poucas e essenciais, para si. Chamou as amigas mais queridas e colocou suas vestes em cima da cama para que escolhessem. Deve ter havido uma grande festa. Mulher não pode ver roupa bonita. Delira de felicidade.
Foi-se o vestuário. O que sobrou coube num roupeiro condizente com o novo apartamento. Depois foi a vez das pratarias,louças. Todo aquele excesso que madames guardam para “quando” forem dar uma grande festa. Que aliás foi grande para quem recebeu, assim,do nada,peças riquíssimas.
E ela conta que,de repente baixou uma paz enorme,uma leveza desconhecida antes, no seu coração. Ela pesava gramas, flutuava, estava feliz. Tão pouco para administrar. Tão menos preocupação com “que roupa eu vou”,nos raros eventos que aceitava comparecer.
Sem contar dos objetos de que se “livrou” e passaram a ser preocupação de amigas que se apegaram, desesperadas a eles.
Hoje, ela vive com pouco e bem.Nem apego a endereços ela teve, antes dessa grande virada. Conta que já morou em 36 apartamentos dentro da mesma cidade. Quem conseguiria? Aliás, mudanças- ao menos a primeira – é a mais dolorosa lição de desapego que a gente pode se dar.
No entanto, há quem leve tudo. Não deixa um alfinete. Nunca vai usar nem metade disso. E terá a maior trabalheira para encontrar espaço na acomodação de tudo que ficará aqui, quando chegar a hora da grande mudança.
*Jornalista