Relações Familiares, uma crônica de Celina Fleig Mayer

[caption id="attachment_2576" align="aligncenter" width="499"]Foto reprodução APUSM Foto reprodução APUSM[/caption]

Relações Familiares

Celina Fleig Mayer* O fim do ano sempre é cheio de comemorações, e faz acontecer também histórias quase impossíveis de reencontros familiares. Existe um romance de Lya Luft, “Reunião de Família”, que retrata fielmente essas oportunidades de “prestações de contas”, só que a narrativa não se refere a uma festa natalina. O motivo não é de celebração, mas os membros do clã são convocados e, como toda junção de gente com histórias interligadas, ela é interessante, densa e reflexiva. Comemorar em família não deixa de ser uma forma de passar as relações a limpo, em reuniões quase só anuais, pela vida agitada que todo adulto leva. Especialmente as festas de fim de ano criam expectativas e esses reencontros são quase obrigatórios, embora nem sempre pacíficos. Cada um se recorda de alguma passagem não guardada pelo outro, e tanto pode ser um momento mágico de volta ao tempo, ou de confronto, dependendo de como foi a história dos que conviveram tão intimamente durante quase duas ou mais décadas. Adultos costumam guardar suas criancices na mente e, de vez em quando, voltam lá para revolver tudo. A vivência de cada pessoa é única e o que os pais, irmãos, tios e avós, sem esquecer babás fizeram dela, é marcante. Basta um gesto para trazer à tona velhas lembranças prazerosas ou frustrações mal-resolvidas. Às vezes uma canção, um prato especial na ceia, uma palavra faz abrir as comportas, e lá está alguém querendo cobrar por um castigo que sofreu no lugar do verdadeiro vilão, e ainda não justificou a ira do pai ou da mãe contra ele, no passado. Quem sabe também alguma injustiça de qualquer membro do clã, hoje tão bonzinho, volte a incomodar porque, mesmo perdoada, jamais foi esquecida. Reuniões de família são como reprises da própria vida, as emoções voltam, cena a cena. Ninguém está imune a essas experiências porque não se trata de um filme de ficção. Há também risos pelas recordações pitorescas, verdadeiras piadas, de um realismo fantástico, tão improváveis que enchem os olhos de lágrimas. Quem nunca chorou de tanto rir? O bom é que, apesar de, quase sempre não tão perfeitos, esses reencontros deixam saudades por aquela sensação boa de que, afinal, não se está sozinho no mundo, e existem essas oportunidades raras para fortalecer relações familiares.   *[email protected]

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