Máximo José Trevisan*
O
Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos. Foi fundada em 1986 por Carlo Petrini, um cozinheiro italiano, em contraponto ao
Fast Food. Hoje, contando com mais de cem mil pessoas em 104 países, o movimento é universal. Petrini defende que é preciso comer bem e devagar, curtindo o sabor de cada alimento. É uma resposta ao padrão
Fast Food e ao ritmo frenético do
Fast Live do nosso tempo. Sem perder o sentido original, o movimento ganhou novas dimensões tanto que se fala, por exemplo, em
Slow Reading como um novo jeito de ler, preservando o sabor do texto. E os demais sentidos humanos: como ouvimos música? Como vemos o mundo no cotidiano da vida? Nos dias atuais todos somos vítimas da pressa e das exigências do fazer qualquer coisa com muita velocidade. Quem se permite comer com calma e faz isso no café da manhã, no almoço, no jantar? Engolimos tudo tão rápido, andamos depressa demais, não damos atenção a quem e ao quê está à frente e ao lado. Uma flor, uma árvore, uma casa passam despercebidas ao nosso olhar desatento à natureza que se oferece, gratuita e generosamente.
Em tempo passado, vivi uma experiência especial, numa terça-feira de um abril iluminado, manhã nem muito quente, nem muito fria. Visitei o Parque da Redenção, em Porto Alegre, convidado pela filha Lígia. Fomos, então, os três, Eunice, Lígia e eu, em torno das 10h, ao Redenção. Garrafa térmica com água quente, cuia e erva mate e um grande desejo de partilhar momentos eram a nossa companhia. Caminhamos no Parque, admiramos o lago, depois sentamos em um dos bancos à sombra, rodeados de árvores. A manhã, cheia de sol e de vida, era um córrego de água limpa onde nossos pensamentos e nossas emoções como barquinhos de papel andavam sobre a água, sem compromisso de chegar a um destino. Até um saquinho de pipocas compartilhamos os três, aliás, quatro porque um solitário passarinho se aproximou de nós, atraído por grãos que, inadvertidamente, caíram no chão. Era um pequeno pássaro anônimo, sem CPF, identidade, Cartão de Crédito...Despertou a nossa atenção pela delicadeza do gesto, ao bicar mais de uma vez cada grão de pipoca, sem pressa, sem atropelo, e depois engoli-lo lentamente.
Duas horas depois, deixamos o Parque, alma leve e olhos carregados do verde das árvores. Tinha colhido o prazer do dar-me tempo em tempo de tanta pressa, de permitir-me sorver um mate em plena manhã, sem culpa, desfrutando o bom e o bonito entre os amados, com vagar e atenção. Deu-me vontade de criar um site www.naoestoucompressa.com.br para repartir com todos os saberes e os sabores que vêm das pessoas, dos animais e das coisas, como os experimentados naquela manhã de abril. *
[email protected] advogado, escritor.