"Somos o assunto de um dia", crônica da jornalista Celina Fleig Mayer

[caption id="attachment_9091" align="aligncenter" width="640"]Foto reprodução internet Foto reprodução internet[/caption] Celina Fleig Mayer* O poeta barroco diria que “ser mãe é proteger sobre os caracóis dos cabelos a cabecinha luzidia do recém-nascido”. Já o romântico não mandou recado e foi taxativo nos seus versos: “ser mãe é desfiar, fibra por fibra, o coração”. Foi necessário a interferência do escritor realista, providenciando um transplante urgente para uma mulher tão fragilizada... O parnasiano colocá-la-ia num pedestal, enquanto o poeta moderno se preparava para derrubá-la, “ó mulher que geraste e tens o dever sagrado de criar, amar e educar o ser indefeso.” No meio da inspiração literária seria preciso consultar a Bíblia. E ela vem de muito antes de qualquer fragmento poético, parece. O próprio Deus assoprou-a no ouvido dos Profetas. E da mulher, disse: “parirás na dor”...(Uma mulher, certo dia, fez-me uma revelação surpreendente: Deus é homem e até Ele está contra nós. Repara, continuou ela, tudo o que é bom é para eles, inclusive nós). Pensaria Deus assim da mulher? E por que parir na dor? Precisa não! A Medicina avançou, passou dos dizeres do Gênesis, e há mulheres que estampam o mesmo sorriso de felicidade ao conceberem e ao darem a luz. Apesar de tudo, nós, as mulheres-mães-de-filhos ou as mulheres-simplesmente, somos a motivação contínua para que o mundo se agite, as crianças nasçam, hinos sejam entoados,  lágrimas derramadas. Somos catalisadoras do bem e do mal. Da vida e da morte. Para nós, todas as pedras por nossos pecados, todo o incenso por nossa beatitude. Nós somos mais do que os escritores alcançaram dizer em palavras. Somos a tentação da mensagem no muro recém-pintado, o assunto com o entrevistado do ano, o aperfeiçoamento da Medicina Estética. Somos presença na sala-quarto-cozinha-cama-mesa-banho. Somos olhos abertos que não querem ver o defeito do filho, e olhos fechados que adivinham a malvadeza do filho-alheio. Incoerência no trato com os filhos-meninos, e rigidez com as filhas-meninas. Somos mãe por querer, poder ou por acaso. E tecemos em torno de novas vidas a vida que esqueceram de tecer por nós, envolvendo-nos nessa incompetência-competente de povoar a terra. Nós somos, afinal de contas, mulheres-mães reconhecidas por uma data que nos eleva e santifica e absolve. *Jornalista

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