
Celina Fleig Mayer*
Nós pouco sabemos o que é um verdadeiro encontro entre pessoas. Nossos relacionamentos são bastante rasos. Nesta época do ano, desejamos Boas Festas – mais um costume do que algo sentido de espírito aberto - não nos entregamos, não conseguimos ser convincentes. A nossa intimidade com os mais próximos não passa de fórmulas prontas de se dizer. Chamamos tanta gente de amigo, mas não vamos além do que se espera do outro.
A intimidade está em falta entre nós na vida em sociedade e, muito também,nos lares. Frequentamos um mundo superficial, repetindo mantras conhecidos, sem buscar nossa essência para nos entregarmos ao outro. Quantos são os filhos que visitam os pais nesta época do ano, e que com eles não têm nenhum diálogo? Velhos desacertos que vem à tona em cada encontro. Festas de fim de ano servem para “unir” as pessoas que não querem parecer sozinhas. Quando vemos pais orgulhosos de seus filhos, muitas vezes apenas falam o que os estranhos esperam ouvir.
Por outro lado, isso me fez lembrar uma mãe que contava às amigas o sucesso do filho, aprovado no Vestibular de Medicina.Estava radiante com o feito do menino, mas nunca conseguiu dizer a ele do seu orgulho. Apenas alertou-o que isso era só o começo, que o rapaz teria que se dedicar muito para ser um bom profissional. Preferiu apelar para a disciplina mais rígida, citando nomes de pessoas que fracassaram. Não chegou a desestimular, pois é uma necessidade a continuação do empenho, após uma aprovação. O que faltou foi a “festa inicial”, o elogio merecido, especialmente dizer de sua felicidade. Fato que só as amigas parece terem compartilhado.
Numa matéria da Revista Claudia (dez.2016), a autora cita a psicanalista Cristiane Maluf Martin que diz: “Não adianta exigir do outro algo que ele não pode oferecer. As pessoas têm valores diferentes e é preciso lidar com isso”. Existem casais que só conhecem a intimidade no sexo, quando se dizem palavras carinhosas. No dia a dia, mal se olham, os assuntos são sempre banais, contas a pagar,preços dos alimentos, noticiário do jornal.Uma amiga contou que, quando o marido fala em política, ela pede para ele tentar essa conversa na sauna ou no futebol. Quer dizer, as frivolidades chegam ao ponto de uma mulher,pode também acontecer de um homem, assuntarem com o companheiro ou companheira como se estivessem preenchendo o silêncio, nada a ver com a relação de cumplicidade que deveria uni-los. Muitos silêncios transmitem mais do que tanta banalidade.
A autora diz que nenhum vínculo cria automaticamente a empatia. Não são automáticos, e engana-se quem pensa que só porque o outro é seu irmão, o entendimento está consolidado. Conforme ela, “a conexão vem dos sentimentos, não do intelecto”. Não se pode tentar falar a mesma linguagem dos filhos, por exemplo. Mas demonstrar, amor, sim.
Esse estranhamento entre familiares é muito comum. Certo dia perguntei a uma médica pela tia, de quem gosto muito. E ela respondeu que “não sabia”. A parente afastou-se por um desentendimento desconhecido. Isso mostrou que a intimidade entre elas – sem que a mulher mais jovem notasse,já estava deteriorada. Um simples fato disparou a ruptura. Outro ensinamento básico do artigo em questão: “Criar vínculos pressupõe troca”. A rejeição não pode ser tolerada indefinidamente”. E, Liliane Prata,no capítulo Rupturas Necessárias, escreve que “não adianta exigir do outro aquilo que ele não é capaz de oferecer”.
E ela resume: “Às vezes o caminho é procurar profundidade em outras relações.”
*jornalista