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Na sua estreia no Jornal da APUSM, uma crônica italiana de Vitor Biasoli: "Viajar e aprender"
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Fotos: arquivo pessoal Vitor Biasoli[/caption]
Vitor Biasoli
Vim a Itália nesse mês de fevereiro para estudar italiano. Um curso para estrangeiros. Para estudar e também conhecer os lugares famosos dessa terra. Afinal, a proposta do curso – oferecido pelo Campus Magnolie, na cidade de Castelraimondo (na região de Marche) – é de possibilitar a imersão do estudante na língua e na cultura italianas. Aulas pela manhã, passeios pela tarde (às vezes viagens de quatro dias, ao sul e ao norte do país), com guias (professores do próprio curso) falando a língua nativa e forçando os alunos a irem além do “bongiorno” e “arrivederci”. No meu caso, uma proposta para testar a capacidade de voltar a ser estudante.
Professor de História por 38 anos (aposentado recentemente), de repente me vi caminhando pela Basílica de São Francisco, em Assis, e admirando as pinturas de Giotto. Estão ali representados os momentos essenciais da trajetória do santo e a emoção é vertiginosa. Um marco na arte cristã e também ocidental (a ruptura com o modelo bizantino e o início da naturalização da figura humana). Pinturas que algumas vezes abordei em aula, a partir de um conhecimento livresco e agora constato em loco.
Sim, Giotto é tudo quanto os especialistas dizem, concluo quando chego a pintura número 20 (“A morte de Francisco”) e vejo e sinto a dor dos frades em torno do corpo do santo, tocando e beijando os estigmas que ele adquirira no Monte Alverne (tema da pintura anterior). Giotto é mesmo o início da naturalização das figuras dos homens e dos santos. A doce humanização – e não a selvagem, como farão mais tarde outros artistas. Talvez o início da construção de uma sensibilidade que muito admiramos – como é o caso da proposta do próprio Francisco, na sua leitura radical dos Evangelhos, no seu despojamento material e reaproximação da Natureza. Tento me lembrar se não foi com Armindo Trevisan que aprendi isso, mas não arrisco. Sou um simples estudante e talvez esteja confundindo as lições. Mas passarei na livraria fransciscana mais próxima e confirmarei o assunto. O principal, no entanto, está feito. A experiência estética. O gozo e a emoção. Agora é ler, refletir e afinar a compreensão das coisas. Aprender é isso.
Se escrevi acima que esse curso em Castelraimondo é um teste para minha capacidade de voltar a ser estudante, estou enfrentando a primeira etapa. Francisco é uma aula de humildade; Giotto, a representação singela desse projeto ambicioso. Pretensiosamente, me coloco como aprendiz desses mestres e sigo em frente. Vim a Itália nesse mês de fevereiro para estudar a língua e a cultura italianas. Para caminhar pela cidade de Assis, pelas ruínas de Pompéia, pelas ruas de Roma, comer sorvete na Praça de São Pedro (o que fiz no último domingo) e pensar se realmente é verdade que parte de nossas vidas de integrantes da Civilização Ocidental (mesmo que seja do Extremo Ocidente, da maltratada América Latina) está vinculada a esse território.
Seguramente temos raízes nesse espaço, constato até o momento. Coisa alguma me parece estranha, apesar de tudo ser esplendorosamente novo, a exigir intenso processo de aprendizagem.




