Imigração e colonização alemã – 190 anos, por José Antonio Brenner
[caption id="attachment_3451" align="aligncenter" width="640"] Tela do artista alemão Ernst Zeuner (1895-1967) que representa o desembarque dos primeiros imigrantes, chegados pelo Rio dos Sinos, na Colônia Alemã de São Leopoldo, em 25 de julho de 1824.
Formado pela Academia de Artes Gráficas de Leipzig, Zeuner estabeleceu-se em Porto Alegre, em 1922, e durante 38 anos foi o responsável pelo atelier de artes gráficas da Livraria do Globo.
A obra pertence ao acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo.[/caption] *O professor José Antonio Brenner é associado da APUSM A data de 25 de julho de 1824 marca a chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Passo do Rio dos Sinos, na Colônia Alemã de São Leopoldo, uma grande área da extinta Real Feitoria do Linho-Cânhamo, uma fazenda do governo, criada em 1788, visando à produção de fibras têxteis para suprir a frota portuguesa. O empreendimento fracassara e a área foi destinada ao assentamento colonial pelo presidente da província, José Feliciano Fernandes Pinheiro, que propôs ao Imperador a denominação de São Leopoldo para a colônia, em homenagem à Imperatriz Leopoldina. A imigração alemã no Brasil, organizada pelo governo imperial, ocorreu por vários fatores. Com a proclamação da Independência, os comandantes militares e dirigentes das províncias, que eram portugueses, mantiveram-se fiéis a Portugal. Isso levou D. Pedro I a expulsar as tropas portuguesas, em 1823. Tornou-se indispensável a formação de um novo exército para garantir militarmente o Brasil, pois havia notícias de que Portugal se preparava para invadir o novo país independente. O Imperador enviou, então, o major Georg Anton von Schaeffer à Alemanha, como seu agent d’affaires politiques, para recrutar mercenários, com o objetivo de formar o “Corpo de Tropas Estrangeiras”. Sua missão era também aliciar colonos na Alemanha, onde havia milhares de desempregados, desde o fim das guerras napoleônicas. O governo imperial desejava assim desenvolver o povoamento e a colonização da Província de Rio Grande de São Pedro, garantindo a posse do território, ameaçada pelos vizinhos castelhanos. Vários foram os motivos para os alemães deixarem sua terra natal, com suas famílias, e virem para um país desconhecido, num continente distante, do outro lado do grande oceano. Motivos políticos, econômicos, sociais e, algumas vezes, pessoais. No início do século 19, a industrialização na Alemanha teve um grande desenvolvimento, necessitando de mão-de-obra especializada, o que causou a ruína de muitos artesãos que sustentavam suas famílias com sua produção doméstica. Eles perderam o controle do processo produtivo, quando se tornaram empregados A industrialização também causou o aumento de produtividade no campo, provocando a diminuição de mão-de-obra e o desemprego de camponeses. Além disso, havia o temor ao recrutamento militar, devido a um passado de guerras e ocupações, especialmente nos territórios a oeste do Reno. Influenciados por propagandas convincentes, às vezes enganosas, em época de dificuldades, vieram para o Brasil em busca de novas oportunidades e condições melhores de vida. No primeiro ano da imigração, a partir de julho de 1824, chegaram ao Brasil 1.150 soldados e 908 colonos. Primeiros imigrantes no RGS A primeira leva de colonos era composta por 39 pessoas – homens, mulheres e crianças. A maior parte cruzara o Atlântico no veleiro Anna Louise,que partira de Hamburgo e chegara ao Rio, em 4.6.1824 com 200 soldados e 126 colonos. Os soldados foram engajados no “Corpo de Tropas Estrangeiras”. A maior parte dos colonos foi para Nova Friburgo/RJ, e um grupo de 38 embarcou no pequeno veleiro da navegação costeira São Joaquim Protector, com destino à Província do Rio Grande de São Pedro. Partiram do Rio em fins de junho e chegaram a Porto Alegre, em 18.7.1824, então somando 39 pessoas, pois nascera uma criança na viagem. Dois dias depois, supostamente, subiram o Rio dos Sinos em lanchões toldados, movidos a velas e remos e, por mais dificuldades que tenham passado, devem ter chegado ao Passo, em 23 de julho. Entretanto, o Dr. Johann Daniel Hillebrand, chegado 15 meses depois, registrou em 1848, quando diretor da Colônia, o dia da chegada em 25 de julho. Embora essa data seja improvável, ficou consagrada como o dia em que a primeira leva de alemães desembarcou no Passo do Rio dos Sinos, inaugurando a Imigração Alemã no R.G.S. A primeira leva de imigrantes era formada pelas seguintes pessoas, num total de 39: Michael Krämer e esposa, católicos. Johann Friedrich Höpper, esposa e dois filhos, um deles nascido na viagem, evangélicos. Paul Hammel, esposa e dois filhos, católicos. Johann Heinrich Otto Pfingsten, esposa e cinco filhos, evangélicos. Johann Christian Rust, esposa e uma filha, evangélicos. Heinrich Timm, esposa e cinco filhos, evangélicos. August Timm, esposa e dois filhos, evangélicos. Jasper Heinrich Bentzen, cuja esposa morreu na viagem, um filho adotivo e um filho do casal, evangélicos. Johann Heinrich Jaacks, esposa e dois filhos, evangélicos. Mais quatro imigrantes Em sua lista, Hillebrand acresentou quatro solteiros na primeira leva: Johann Daniel Gottlieb Kümmel, Johann Friedrich Wilhelm Jäger, Andreas Chistoph Mayer e Ignaz Rasch, que chegaram a São Leopoldo somente em 12 de agosto. Entretanto é importante citá-los devido ao genearca das famílias Kümmel de Santa Maria. Johann Daniel Gottlieb Kümmel, natural de Lindenau/Prussia, hoje Lipinka/Polônia, foi o primeiro ferreiro da vila iniciada pelos imigrantes, que se tornou a cidade de São Leopoldo. Seus dois filhos Felipe e Carlos Daniel, nove anos mais moço, se estabeleceram como ferreiros, em Santa Maria, em diferentes datas, e geraram importante descendência. Os pioneiros imigrantes eram naturais dos reinos da Prússia, da Baviera, de Hannover; do Ducado de Holstein e da Cidade-Livre de Hamburgo. Não havia então o país Alemanha, mas a Confederação Alemã, criada após o Congresso de Viena, em 1815. Além do Império da Áustria e Reino da Prússia, havia mais 37 estados soberanos – reinos, grão-ducados, ducados, principados, condados e quatro cidades-livres –, com dialetos próprios, leis e características culturais diferentes, mas associados no conceito lingüístico. Essa união se acentuou, em 1834, pelo Zollverein, a aliança aduaneira que estabeleceu a liberdade alfandegária para os estados alemães. Somente em 1871, sob a liderança de Bismarck, houve a unificação da Alemanha. No primeiro século de imigração, cerca de 160 mil alemães imigraram no Brasil. Mesmo não recebendo o prometido e necessário suporte do governo, criaram suas escolas, suas comunidades religiosas e sociais, desenvolveram o cooperativismo e o associativismo em diversas modalidades. Iniciaram a industrialização, criaram os minifúndios, desenvolveram a imprensa e deixaram marcas profundas em diversos setores de nossa sociedade. A data e suas comemorações Em 1924, ano do centenário da imigração, o dia 25 de julho tornou-se data instituída por lei estadual. Em Santa Maria, na década de 1930, a data era intensamente comemorada todos os anos. Notícias do Diario do Interior, entre 1934 e 37, revelam uma variada programação com desfiles, culto memorial na Igreja Evangélica Alemã, missa de ação de graças na Igreja da Assoc. de Homens Católicos Alemães, festividades na Soc. Beneficente Alemã e no Clube Atirador Esportivo, com apresentação do coral “Friedmann Bach”, do maestro Poggetti, teatro, poesia, bailado, torneios de bolão e de tiro e bailes. O dia 25 de julho tornou-se o “Dia do Colono”, em âmbito nacional, por projeto de Lei Federal do Dep. Norberto Schmidt, em 1968. Em 2003, por projeto do Dep. Heitor Schuch, a data foi instituída como “Dia da Etnia Alemã”, no Estado. E em 2005, o Congresso Nacional instituiu o “Dia Nacional da Etnia Teuto-Brasileira” em 25 de julho, a data magna da Imigração Alemã no Brasil, que denomina, inclusive, inúmeras associações de matriz cultural germânica. Nos 170 anos da imigração, foi organizada, no Museu Educativo da UFSM, uma exposição de fotos, documentos e objetos. Nos 180 anos, a comemoração ocorreu na sede campestre da Socepe, com palestras e a exposição Colônia Alemã do Pinhal-Berço de Itaara, com fotos, textos e documentos referentes ao assentamento colonial que gerou Itaara, em 1857.
Formado pela Academia de Artes Gráficas de Leipzig, Zeuner estabeleceu-se em Porto Alegre, em 1922, e durante 38 anos foi o responsável pelo atelier de artes gráficas da Livraria do Globo.
A obra pertence ao acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo.[/caption] *O professor José Antonio Brenner é associado da APUSM A data de 25 de julho de 1824 marca a chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Passo do Rio dos Sinos, na Colônia Alemã de São Leopoldo, uma grande área da extinta Real Feitoria do Linho-Cânhamo, uma fazenda do governo, criada em 1788, visando à produção de fibras têxteis para suprir a frota portuguesa. O empreendimento fracassara e a área foi destinada ao assentamento colonial pelo presidente da província, José Feliciano Fernandes Pinheiro, que propôs ao Imperador a denominação de São Leopoldo para a colônia, em homenagem à Imperatriz Leopoldina. A imigração alemã no Brasil, organizada pelo governo imperial, ocorreu por vários fatores. Com a proclamação da Independência, os comandantes militares e dirigentes das províncias, que eram portugueses, mantiveram-se fiéis a Portugal. Isso levou D. Pedro I a expulsar as tropas portuguesas, em 1823. Tornou-se indispensável a formação de um novo exército para garantir militarmente o Brasil, pois havia notícias de que Portugal se preparava para invadir o novo país independente. O Imperador enviou, então, o major Georg Anton von Schaeffer à Alemanha, como seu agent d’affaires politiques, para recrutar mercenários, com o objetivo de formar o “Corpo de Tropas Estrangeiras”. Sua missão era também aliciar colonos na Alemanha, onde havia milhares de desempregados, desde o fim das guerras napoleônicas. O governo imperial desejava assim desenvolver o povoamento e a colonização da Província de Rio Grande de São Pedro, garantindo a posse do território, ameaçada pelos vizinhos castelhanos. Vários foram os motivos para os alemães deixarem sua terra natal, com suas famílias, e virem para um país desconhecido, num continente distante, do outro lado do grande oceano. Motivos políticos, econômicos, sociais e, algumas vezes, pessoais. No início do século 19, a industrialização na Alemanha teve um grande desenvolvimento, necessitando de mão-de-obra especializada, o que causou a ruína de muitos artesãos que sustentavam suas famílias com sua produção doméstica. Eles perderam o controle do processo produtivo, quando se tornaram empregados A industrialização também causou o aumento de produtividade no campo, provocando a diminuição de mão-de-obra e o desemprego de camponeses. Além disso, havia o temor ao recrutamento militar, devido a um passado de guerras e ocupações, especialmente nos territórios a oeste do Reno. Influenciados por propagandas convincentes, às vezes enganosas, em época de dificuldades, vieram para o Brasil em busca de novas oportunidades e condições melhores de vida. No primeiro ano da imigração, a partir de julho de 1824, chegaram ao Brasil 1.150 soldados e 908 colonos. Primeiros imigrantes no RGS A primeira leva de colonos era composta por 39 pessoas – homens, mulheres e crianças. A maior parte cruzara o Atlântico no veleiro Anna Louise,que partira de Hamburgo e chegara ao Rio, em 4.6.1824 com 200 soldados e 126 colonos. Os soldados foram engajados no “Corpo de Tropas Estrangeiras”. A maior parte dos colonos foi para Nova Friburgo/RJ, e um grupo de 38 embarcou no pequeno veleiro da navegação costeira São Joaquim Protector, com destino à Província do Rio Grande de São Pedro. Partiram do Rio em fins de junho e chegaram a Porto Alegre, em 18.7.1824, então somando 39 pessoas, pois nascera uma criança na viagem. Dois dias depois, supostamente, subiram o Rio dos Sinos em lanchões toldados, movidos a velas e remos e, por mais dificuldades que tenham passado, devem ter chegado ao Passo, em 23 de julho. Entretanto, o Dr. Johann Daniel Hillebrand, chegado 15 meses depois, registrou em 1848, quando diretor da Colônia, o dia da chegada em 25 de julho. Embora essa data seja improvável, ficou consagrada como o dia em que a primeira leva de alemães desembarcou no Passo do Rio dos Sinos, inaugurando a Imigração Alemã no R.G.S. A primeira leva de imigrantes era formada pelas seguintes pessoas, num total de 39: Michael Krämer e esposa, católicos. Johann Friedrich Höpper, esposa e dois filhos, um deles nascido na viagem, evangélicos. Paul Hammel, esposa e dois filhos, católicos. Johann Heinrich Otto Pfingsten, esposa e cinco filhos, evangélicos. Johann Christian Rust, esposa e uma filha, evangélicos. Heinrich Timm, esposa e cinco filhos, evangélicos. August Timm, esposa e dois filhos, evangélicos. Jasper Heinrich Bentzen, cuja esposa morreu na viagem, um filho adotivo e um filho do casal, evangélicos. Johann Heinrich Jaacks, esposa e dois filhos, evangélicos. Mais quatro imigrantes Em sua lista, Hillebrand acresentou quatro solteiros na primeira leva: Johann Daniel Gottlieb Kümmel, Johann Friedrich Wilhelm Jäger, Andreas Chistoph Mayer e Ignaz Rasch, que chegaram a São Leopoldo somente em 12 de agosto. Entretanto é importante citá-los devido ao genearca das famílias Kümmel de Santa Maria. Johann Daniel Gottlieb Kümmel, natural de Lindenau/Prussia, hoje Lipinka/Polônia, foi o primeiro ferreiro da vila iniciada pelos imigrantes, que se tornou a cidade de São Leopoldo. Seus dois filhos Felipe e Carlos Daniel, nove anos mais moço, se estabeleceram como ferreiros, em Santa Maria, em diferentes datas, e geraram importante descendência. Os pioneiros imigrantes eram naturais dos reinos da Prússia, da Baviera, de Hannover; do Ducado de Holstein e da Cidade-Livre de Hamburgo. Não havia então o país Alemanha, mas a Confederação Alemã, criada após o Congresso de Viena, em 1815. Além do Império da Áustria e Reino da Prússia, havia mais 37 estados soberanos – reinos, grão-ducados, ducados, principados, condados e quatro cidades-livres –, com dialetos próprios, leis e características culturais diferentes, mas associados no conceito lingüístico. Essa união se acentuou, em 1834, pelo Zollverein, a aliança aduaneira que estabeleceu a liberdade alfandegária para os estados alemães. Somente em 1871, sob a liderança de Bismarck, houve a unificação da Alemanha. No primeiro século de imigração, cerca de 160 mil alemães imigraram no Brasil. Mesmo não recebendo o prometido e necessário suporte do governo, criaram suas escolas, suas comunidades religiosas e sociais, desenvolveram o cooperativismo e o associativismo em diversas modalidades. Iniciaram a industrialização, criaram os minifúndios, desenvolveram a imprensa e deixaram marcas profundas em diversos setores de nossa sociedade. A data e suas comemorações Em 1924, ano do centenário da imigração, o dia 25 de julho tornou-se data instituída por lei estadual. Em Santa Maria, na década de 1930, a data era intensamente comemorada todos os anos. Notícias do Diario do Interior, entre 1934 e 37, revelam uma variada programação com desfiles, culto memorial na Igreja Evangélica Alemã, missa de ação de graças na Igreja da Assoc. de Homens Católicos Alemães, festividades na Soc. Beneficente Alemã e no Clube Atirador Esportivo, com apresentação do coral “Friedmann Bach”, do maestro Poggetti, teatro, poesia, bailado, torneios de bolão e de tiro e bailes. O dia 25 de julho tornou-se o “Dia do Colono”, em âmbito nacional, por projeto de Lei Federal do Dep. Norberto Schmidt, em 1968. Em 2003, por projeto do Dep. Heitor Schuch, a data foi instituída como “Dia da Etnia Alemã”, no Estado. E em 2005, o Congresso Nacional instituiu o “Dia Nacional da Etnia Teuto-Brasileira” em 25 de julho, a data magna da Imigração Alemã no Brasil, que denomina, inclusive, inúmeras associações de matriz cultural germânica. Nos 170 anos da imigração, foi organizada, no Museu Educativo da UFSM, uma exposição de fotos, documentos e objetos. Nos 180 anos, a comemoração ocorreu na sede campestre da Socepe, com palestras e a exposição Colônia Alemã do Pinhal-Berço de Itaara, com fotos, textos e documentos referentes ao assentamento colonial que gerou Itaara, em 1857.