Fotografia - Olaria, 1929, por Luiz Gonzaga Binato de Almeida

[caption id="attachment_9428" align="aligncenter" width="640"]Negativo sobre vidro: 13 X 18 cm, P&B, Santa Maria, 1929, fotógrafo Bortolo Achutti, acervo pessoal Aloyzio Achutti. Negativo sobre vidro: 13 X 18 cm, P&B, Santa Maria, 1929, fotógrafo Bortolo Achutti, acervo pessoal Aloyzio Achutti.[/caption]   Luiz Gonzaga Binato de Almeida - Arquiteto e professor universitário aposentado [email protected]     Essa imagem é obra de amor paterno. A musa foi Lia Maria, fruto primeiro do casal Bortolo Achutti, autor da foto, e Luiza Cechella Achutti. O instante foi captado em 1929, na época em que a família residia no sobrado anexo à Olaria Bidone. O local era a Rua Venâncio Aires n.º 669, no bairro santa-mariense do Passo da Areia. Lia Maria Cechella Achutti nascera meses antes, nesta cidade, em 22 de julho de 1928. Tornou-se artista plástica, professora e diretora da Escolinha de Artes e do Centro de Artes e Letras (1977-82) da UFSM. Em 2012, fui o curador de “Jardim de Panos e Linhas”, sua mostra retrospectiva, exposta de 2 a 25 de maio, na Sala Angelita Stefani da Unifra. “Papai” Bortolo exerceu atividades plurais até ser o primeiro fotógrafo da Universidade de Santa Maria, desde 1961. Ele e o mano Elias Achutti eram, na época dessa imagem, os proprietários da olaria criada em 1913 por Rodolfo Bidone. Este bajeense era filho de um imigrante italiano nato em Tortona, província de Alexandria, região do Piemonte. Da minúscula Santa Maria de apenas três iniciantes ruas – Acampamento, da Conceição (atual Venâncio Aires) e Pacífica (Dr. Bozano) – a primeira olaria pertencia ao capitão Manoel Carneiro da Silva e Fontoura, um dos principais fundadores do povoado. Construir era preciso. Para sua fábrica de tijolos, ele associou-se, em 10 de agosto de 1807, ao alferes Jacintho Mateus da Silveira. As instalações ficavam em propriedade deste, próximas à divisa com a Chácara do Ipê, no Alto da Eira. Assim era chamada a região correspondente às partes elevadas do atual Bairro Dores e às margens da Rua Benjamim Constant de agora. Hoje, o estabelecimento estaria nas imediações do Colégio Coração de Maria, mas, na época, era tudo mato e campo. Passados 118 anos de implantação da olaria pioneira, a Bidone, especializada em telhas “francesas”, no ano de 1925, produzia 400 mil tijolos e 600 mil telhas por mês. Contando com três empregados fixos e setenta operários avulsos, atendia a Santa Maria, em plena expansão predial, e a outras partes do estado. O próspero Rodolfo Bidone habitava senhorial vivenda na segunda quadra da Bozano, 1.095. Ia o terreno até a Cel. Niederauer. Era marcada por leões ornamentais nos pilares do muro da frente, além de jardim lateral com estátuas e chafariz. Seguiram-se vários usos. A partir de 1932, sedia o Gymnasio Brasileiro, de ensino secundário noturno. Abriga a Escola Complementar, enquanto se dava a construção do novo prédio, iniciado em 1936 e inaugurado em 30/07/1938 como Escola Complementar Olavo Bilac. Em 7/1/1939, o Clube Comercial adquire a propriedade dos herdeiros de Bidone para ali construir sede própria, mas abandona tal propósito. Nos tempos da 2.ª Guerra, a casa serve à Delegacia de Polícia; depois, à pensão de Dona Cornélia. Por fim, Albino Schaurich, proprietário do imóvel, demole a antiga residência e constrói o edifício do hotel que ali se encontra. Nos finais dos anos 60, é erguido um edifício-garagem, com frente para a Cel. Niederauer. (Devo esses dados sobre a morada Bidone ao prestimoso colaborador José Antonio Brenner.). Na década de 1920, Rodolfo Bidone vende a fábrica aos irmãos Elias e Bortolo Achutti, os quais, a cada sete anos, alternam-se na administração da empresa. Bem depois, adquire-a Frederico Guilherme Scherechewski. Foi o derradeiro dono, o qual também comprara, em 1946, a histórica “Soteia”, sita no outro lado da Venâncio Aires. Da dinâmica Bidone de outrora sobrevive somente a chaminé sobre a fornalha extinta. Torre com duplas alvenarias de tijolos à vista e a capricho. Entre o casario da Vila Rohde, no Bairro Noal, sobressai o centenário perfil. Digno fragmento de patrimônio, golpeado por raios e pelo descaso. Mutilado, fraturado, ferido de morte. Prestes a esvair-se. Meus respeitos a Lia, Maria Helena e Aloyzio Achutti, filhos do autor dessa foto, transmissores de lindas memórias.            

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