Máximo José Trevisan
Há coisas mais fáceis de fazer, há coisas mais difíceis. Há coisas possíveis de acontecer, há outras (quase) impossíveis. Uma das tarefas desafiadoras, instigantes, mas menos usuais é abrir espaço dentro da gente, no interior do coração e da mente, para que nele possam ser plantadas sementes de novas idéias e de novos afetos, capazes de frutificar outras concepções ideológicas e outros sentimentos.
Normalmente, de modo todo especial nos mais velhos, nos que já têm cabeça pronta e o coração lotado de tudo um pouco, a missão de abrir espaço é, no mínimo, desconfortável, para não dizer dolorida demais. Daí por que se é conservador, resistente à mudança, tradicional, repetitivo até nos atos mais simples como escolher o assento no mesmo lado quando se vai ao cinema (sem ter experimentado o outro lado) ou descascar uma fruta sem ter tido a curiosidade de fazê-lo de outra forma...E mudar idéias mais sólidas, concepções mais antigas... aí, então, nem se fala !
Abrir espaço interior é tornar-se disponível à troca ou reforma de idéias e sentimentos, é dar um “chega pra lá” aos preconceitos e tabus, é pôr-se em estado de terra úmida há pouco lavrada, ansiosa por receber os grãos férteis para torná-los frutos em breve.
Além de abrir espaço interior, é preciso trocar o existente pelo novo. Somar/somar pode resultar em enciclopédia; substituir é sinônimo, muitas vezes, de criar idéias, sentimentos, estabelecer outras relações, reorganizar a percepção e as concepções. Somente há conversão pessoal, inovação, mudança de vida pela substituição, pois, de outra forma, apenas se empilham conhecimentos e afetos.
A postura de abrir espaço interior e de substituir ao invés de somar exige humildade e coragem de quem a tem e pratica. Ter humildade é aceitar-se como se é, sem adições nem subtrações. Mudar é, no mínimo, necessário para poder (sobre) viver com lucidez e alegria. Muda quem não se percebe pronto. Muda quem não se vê satisfeito como é e como age. Muda quem quer inovar, aperfeiçoar-se. E para isso é preciso pôr-se como aprendiz diante da vida, cultivar-se permanentemente, dispor-se ao compromisso e à descoberta de novas idéias, novos sentimentos, novos valores. No entanto, além da humildade, é necessário coragem para mudar, coragem para atirar fora guardados de há muito tempo, coragem para enfrentar a incerteza do desconhecido, coragem para tentar ser feliz de outro jeito.
Os conservadores, os repetitivos, os sempre iguais não se submetem à influência dos demais, não procuram, não farejam, não são pró-ativos mas reativos, mais defensores de um passado do que servidores de um futuro que se quer melhor. Por fim, sempre é bom lembrar, na mudança, de distinguir o permanente do transitório, o válido do “mexível”, sob pena de “ ao atirar fora a água suja, jogar junto o bebê
”...