Por Noli Brum de Lima
O Quintino me pediu um texto para ser publicado no Jornal da APUSM. Fiquei intimidado. Mas como rejeitar um pedido seu?
Intimidado? Por quê? Por prudência e vaidade.
A prudência me diz que o melhor é ficar quieto no meu canto. E a vaidade me lembra que “entrar nessa” - de escrever para um público leitor como o do jornal da Apusm – é oferecer um frágil telhado a toda sorte de críticas de quem entende do riscado.
Fantasio, penso e escrevo como sempre: dando livre curso às associações de ideias. A primeira que me ocorreu é uma antiga piada: “Deus e o Diabo, como se sabe, são concorrentes. Por isso, tudo o que Deus faz, o Diabo anula: Deus criou o dia, o Diabo criou a noite; Deus criou o doce, o Diabo o salgado; Deus criou o amor, o Diabo, o ódio, e assim por diante. Pois bem, um dia, chateado, Deus resolveu fazer uma criação que o Diabo não pudesse anular. Foi aí que Ele criou o Professor Universitário! … O Diabo criou o Colega ...”
Não acredito muito nessa história, pois, se assim fosse, a Apusm não teria sido criada, desenvolvida e enriquecida. Estou pensando nos vinte e poucos colegas fundadores da Apusm, nos cento e poucos que o Tabajara convenceu a associarem-se e nos mais de trezentos que atenderam os apelos do Arlindo Mayer. Tudo isso, naqueles tempos bicudos dos Atos Institucionais. Todos os outros presidentes deram importantes contribuições em circunstâncias e problemas que foram se apresentando à medida que a História se fazia.
Hoje, entre minhas melhores lembranças de vida, está a APUSM. Foi muito bom trabalhar nela e por ela. Muitos de meus melhores amigos ainda militam aí, entre os quais o Quintino, sempre atento, solidário, criativo.
Mas, como vejo o mundo? Mais ou menos como Albert Camus: “No homem há mais coisas a admirar do que a lamentar”.
Devo confessar, no entanto, que tem sido difícil manter essa opinião, pois qualquer pessoa – mesmo que seja pouco informada – sabe e sente as guerras estão acontecendo e que há ameaças de novas guerras. Além disso, há o terrorismo, o fanatismo político, a corrupção, os sistemas ideológicos esgotados, as epidemias, o ódio, homofobia, racismo, fanatismo religioso, falta de esperança num futuro melhor, migrações forçadas pela escassez de água e o esgotamento do solo com o consequente empobrecimento das populações.
Como viver bem – sem ser míope ou demasiado egoísta - num mundo assim?
Sei que estou ficando parecido com aqueles velhos de antigamente que, com saudade do passado, viviam se queixando do presente (nos anos cinquenta do século XX). Adolescente, eu detestava esses queixumes e conversas. Tinha esperança no progresso e provas de que melhorias estavam acontecendo: instalação da energia elétrica e da água encanada em Santa Rosa, além do calçamento das ruas. Baita revolução! E os remédios e tecnologias que se inventavam? Combatiam infecções, além de combater a dor, e ajudavam a diagnosticar males que podiam matar se não fossem descobertos a tempo. Isso sem falar nas doenças invalidantes. Hoje, até alguns tipos de câncer começam a ter cura!!! E tem um médico chinês que aposta no transplante de um corpo inteiro noutra cabeça!!! ... Como, então, continuar se queixando? E os modernos meios de comunicação e transporte?
Sempre me lembro – com pena - de Dom Pedro II visitando o RGS, depois da Guerra dos Farrapos: do Rio de Janeiro à Porto Alegre e Santa Maria, de carroça!!! … Como não havia estradas em todo o trajeto, um batalhão de engenharia do exército ia na frente para arrumar o que pudesse.
A inteligência e criatividade humanas fazem parte daquelas coisas das quais falava Camus e que todos podemos ver e admirar. Além disso, temos a capacidade de amar, de nos enternecer e comover com pessoas em dificuldade. É aí que emergem outras importantes virtudes humanas como a generosidade e a solidariedade. E há os heróis anônimos do quotidiano que lutam, não apenas para sobreviver, mas para educar seus filhos.
Claro, há as nossas fraquezas e a tendência para a violência, as infinitas ambições de poder, glória e dinheiro sem fim, a corrupção e a surpreendente inconsciência de alguns:
“Há pais que perdem o sono por terem ralhado com os filhos. E corruptos há que dormem tranquilos depois de roubar dinheiro que deveria ser encaminhado para a alimentação, saúde, educação, moradia, transporte, etc. (Roberto DaMatta).
Para esses males, creio que há solução: combate à ignorância, aos desvios de conduta – com uma justiça implacável – participação popular nas atividades políticas, educação para a solidariedade e cidadania.
A ignorância é, talvez, o problema maior. Povo ignorante se deixa engambelar, mesmo por políticos sem propostas viáveis.
Um dos problemas é que, ao observar nossos atuais líderes políticos, tendo a esmorecer. Vi seus discursos e caras por ocasião do voto na Câmara Federal pelo impeachment da Dilma. Nossa Senhora!!!
Penso que entidades como a UFSM e associações como a Apusm poderiam contribuir de maneira poderosa para conceber e tentar aplicar alternativas de vida.