Artigo: Carta para o Quintino, de Noli Brum de Lima

  [caption id="attachment_8122" align="aligncenter" width="560"]Foto reprodução internet Foto reprodução internet[/caption]   Noli Brum de Lima Quintino: Quem é amigo de todo mundo não é amigo de ninguém. “Todo mundo” não tem identidade própria, não tem uma cara conhecida, gostos e desgostos. Não tem alegrias nem tristezas. E não tem, tampouco, projetos, medos, nem esperanças. Mas o amigo tem tudo isso. Por essa razão estou escrevendo para ti. Se quiseres comunicar as preocupações abaixo a outros amigos e colegas, tudo bem. Acontece que ando preocupado. E mais preocupado fiquei, ontem, ao ouvir a notícia do “overshooting”, dia a partir do qual - no que se refere aos bens naturais - saímos do crédito e entramos no débito. É o seguinte: até o dia 8 de agosto de 2016 gastamos todos os recursos disponíveis para o ano todo!!! À partir de então,  pois, começamos a viver de nossas reservas naturais. É como se um pai de família tivesse gasto, até o dia 08/08, todo o capital destinado para o uso da família  até o final do ano. Vai precisar, e muito, do cheque especial! Quanto ao nosso planeta, estamos consumindo mais recursos naturais do que ele pode fornecer ou recompor.  Em 1970, a data do “overshooting” aconteceu no dia 23 de dezembro. Isto quer dizer que, naquele ano, só ficamos 8 dias no vermelho. Mas em 1990, o dia fatídico aconteceu em 13 de outubro. Dois meses e dezoito dias a descoberto! Esta data, segundo previsões confiáveis vai acontecer cada vez mas cedo. Se nós, humanos, não tomarmos as medidas necessárias para resolver este problema, é o nosso lar que estaremos aniquilando. Os indícios de que estamos vivendo acima de nossas possibilidades são numerosos e nítidos. Mas não os temos levado em conta ou nem notamos. Isto me faz lembrar uma leitura que fiz antigamente: em 1878, um francesinho, órfão de mãe, viu um grupo de gurias peladas brincando num açude. Gostou demais e quis juntar-se a elas. Mas, num segundo olhar, notou que elas não tinham uma coisa que ele tinha. Por isso, desistiu e foi para casa pensando: “Como foi possível que eu nunca tenha pensado nisso, apesar dos indícios? Essas gurias são que nem minha irmã é e eu sou que nem o meu pai”. Ele tomou isso como lição de vida: a cada nova situação que se apresentasse perguntava: “O que existe aí que eu não estou vendo”? E eu, Noli, pergunto: “O que é que está acontecendo, agora, no Planeta Terra que não estou vendo”? No final de minha carreira docente, quando o reitor da UFSM  era o Tabajara Gaúcho da Costa, apresentei-lhe um projeto de “Eco desenvolvimento”. Era um projeto de Desenvolvimento Sustentável. Ele compreendeu imediatamente o seu alcance: apoiou e ajudou... Mas estava quase na hora de minha aposentadoria... Para que um desenvolvimento seja sustentável não podemos desperdiçar nossas reservas. Foi o que aconteceu com o capital de araucária no RGS: até o início do século XX havia muita araucária em nosso Estado. Mas derrubamos e não replantamos. Deu no que deu. O mesmo aconteceria, por exemplo, se um criador de gado tivesse mil reses e abatesse mais do que elas são capazes de se reproduzir: dentro de pouco tempo ele terá desperdiçado o seu capital. Por isso, é absolutamente necessário pensar em sustentabilidade ... e/ou mudar nosso modo de consumo e de produção dos bens necessários à vida. Segundo os dados que colhi ontem, se todo o mundo vier a consumir como os norte americanos, precisaríamos que o Planeta Terra fosse cinco vezes maior. Se vivêssemos como os australianos, bastariam quatro planetas! E como os franceses? Nesse caso, três planetas já seriam suficientes! Mas não penso que deveríamos viver como os hindus. Para eles, basta 0,9 planeta! Quando penso nessa situação, me ponho a pelear, corpo a corpo, com a esperança (Arthur Gianetti) ... e acabo perdendo. Será que tu e demais colegas da Apusm não poderiam me ajudar a levantar a moral? Talvez pelo lado da ciência e das tecnologias? E pela conscientização? Grande abraço PS: Talvez o Gaspar possa divulgar minhas preocupações no Jornal diário A Razão. Não podemos perder tempo! Observação da Redação: O professor Quintino Oliveira é o diretor de Comunicação da APUSM.  

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