A Educação brasileira perde Luiz Gonzaga Isaia

[caption id="attachment_7970" align="aligncenter" width="620"]Foto reprodução DSM Foto reprodução DSM[/caption]   O braço direito do fundador da UFSM e primeiro administrador da instituição, Luiz Gonzaga Isaia, faleceu nesta quarta-feira, aos 89 anos, em Santa Maria. Ele estava internado há 15 dias na UTI do Hospital São Francisco e faleceu às 13h. O velório acontece na capela 2 do Hospital de Caridade, e o enterro está marcado para as 11h desta quinta, dia 14 de julho, no Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria. Isaia foi um dos fundadores diretos da Faculdade de Direito e de Ciências Contábeis da universidade federal. Também foi o primeiro diretor do Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas, atual Centro de Ciências Sociais e Humanas. Ainda atuou como diretor do curso de Economia. Na área pedagógica, lecionou 35 anos em oito cursos. Aposentou-se em 1991. Depois de aposentado, o professor pioneiro gostava de colaborar na área social, fazer palestras, ler, ouvir música erudita, além de passear em sua chácara, em Itaara. A mulher, Lygia, ele conheceu em 1953. Casou-se com ela um ano depois e teve dois filhos – Luiz Gonzaga Isaia Junior e Ricardo (já falecido) – e uma neta (Letícia). Lygia faleceu há nove meses. No último mês de junho, a APUSM homenageou o professor Luiz Gonzaga com um placa que lembra sua participação na interiorização do Ensino Superior no Brasil, porém ele não pode participar da cerimônia de entrega da honraria no Café dos Pioneiros devido a um agravamento de seu estado de saúde. E também reverenciando o professor Isaia, reproduzimos a sua última entrevista para o Jornal da APUSM, realizada pelo jornalista Ricardo Ritzel em julho de 2013, quando relembrou momentos importantes de sua extensa e rica trajetória de vida. Fica nesta recordação os mais expressivos sentimentos de toda direção, funcionários e colaboradores da APUSM para família deste verdadeiro desbravador da Educação brasileira  

“Tudo que fiz foi por ideal e convicção”

[caption id="attachment_7971" align="alignright" width="315"]Foto reprodução UFSM Foto reprodução UFSM[/caption] O professor Luiz Gonzaga Isaia recebeu a reportagem do Jornal da APUSM com gentilezas em seu apartamento no 8º andar da Galeria do Comércio. Porém, logo depois das saudações iniciais, colocou uma condição para a realização da entrevista: -“Não me incensem, não quero elogios. Realmente eu não me sinto bem nesta condição, já que tudo que fiz pelo Ensino Superior de Santa Maria foi por ideal e convicção”, enfatizou o professor. Condição aceita, Isaia retira a mão que pousava sobre o gravador e inicia uma jornada de quase duas horas pela história do Ensino Superior de Santa Maria. Com detalhes, ele relembrou personagens, situações e diálogos dos últimos 70 anos que, de uma maneira ou outra, levaram a fundação da primeira universidade pública brasileira longe das grandes capitais: a UFSM. E está é também uma parte da história de sua própria vida.   O fundador e a padroeira “A Faculdade de Farmácia é o embrião da UFSM, e ela surgiu porque tínhamos médicos em Santa Maria, mas não tínhamos técnicos farmacêuticos para manipular as receitas que eles passavam para seus pacientes. Porém, chegou um momento, na primeira metade da década de 1940, que a faculdade santa-mariense esteve por fechar. O fundador, Francisco Mariano da Rocha havia se retirado por motivos de saúde, a escola tinha poucos alunos e ainda uma dívida expressiva que preocupava seus dirigentes. Foi então que o José Mariano da Rocha Filho (sobrinho de Francisco) resolveu assumir o desafio. O seu primeiro dia na direção da faculdade de Farmácia foi 25 de março de 1945 e seu primeiro ato na direção foi convidar Dom Antonio Reis, conhecido como o “Bispo da Medianeira” por seu trabalho de devoção à santa, para entronizar em seu gabinete um quadro da padroeira da cidade. Ele costuma dizer que “O gestor era ele, mas a reitora era ela”, ao apontar para santa. E mesmo depois de criada a UFSM, Mariano manteve este quadro de Nossa Senhora da Medianeira em sua sala de trabalho até seu último dia de reitorado, em 1973. Foi com está fé que ele começou a construir a universidade. Tanto que muito tempo depois ele me confessou que naquele dia, de sua posse na Farmácia, já pensava em criar uma universidade em Santa Maria, só que estaria ligada a UFRGS ou seria particular, com mensalidades pagas”.   O amigo Mariano “Conheci o doutor Mariano quando meu pai ficou doente. Ele era o seu médico e começou a visitar nossa casa para acompanhar o paciente. No mínimo, duas vezes por semanas. Era um jovem médico, extrovertido, contava histórias e logo eu me encantei com sua personalidade. Bem depois, quando o Salvador (Isaia) resolveu construir a Galeria do Comércio, ele se associou a nós no empreendimento e começamos a nos encontrarmos mais. Aliado a isto, nós dois vínhamos participando de campanhas pró-ensino superior em Santa Maria: eu pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, e ele pela Faculdade de Farmácia. Pode-se dizer que as pessoas aqui na cidade, as quais eu me incluo, não entendiam o Mariano porque ele via além, muito além. Parecia-lhes utópico os seus sonhos. Elas somente entenderam depois. Com a UFSM na sua frente. Mas para fazer alguma coisa que todos acham inviável, é preciso imaginar antes. Ele era assim. Imagine que ainda no tempo de diretor da Farmácia, em um discurso de formatura, quando ninguém cogitava outra faculdade, quanto mais uma universidade, o Mariano chegou a dizer: - “Só os cegos não veem a futura universidade de Santa Maria”. Nós éramos todos cegos”...(exclamou o Isaia já soltando uma boa risada).   O primeiro passo de um sonho “Um sonho do Marianinho”. Conforme as recordações do professor, assim toda Santa Maria definia a ideia de criação de uma universidade no interior gaúcho ainda na primeira metade do século XX. Uma utopia nutrida por um médico jovem e idealista. Porém, em 1948, uma iniciativa de Mariano da Rocha começa a mudar as perspectivas de outras pessoas e, segundo Isaia, até a dele própria. O sonho estava ao alcance. Há uma possibilidade de se concretizar. E o primeiro passo foi dado com a fundação da Aspes – Associação Santamariense Pró-Ensino Superior. “Em 1948, o futuro reitor da UFSM convidou Dorvalino Tonin, Willy Schwark, Vitor Schuch, Antonio Abelin e eu (que já atuávamos na Campanha pró-criação da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas) para se unir com a Campanha Pró- Faculdade de Farmácia. Em um primeiro momento, Mariano nos pediu a elaboração de um estatuto para criação de uma entidade que apoiasse permanentemente a implantação de ensino superior em Santa Maria. Na primeira reunião oficial, foi aprovado que o estatuto teria um Conselho, e que este seria integrado pelas maiores autoridades da cidade: o comandante da Guarnição, o diretor do Foto, o prefeito, o presidente da Câmara de Vereadores, o bispo, enfim, todos que pudessem colaborar na incorporação da Faculdade de Farmácia à UFGRS e na criação de novos cursos na cidade. Ele vinha pleiteando isto há tempos e, até então, não havia conseguido nada. Em 4 de março de 1948, o estatuto foi aprovado e, no final de uma reunião histórica, Mariano da Rocha foi aclamado o primeiro presidente da Aspes, assumiu a sua direção e daí em diante ele teve mais forças para pleitear a suas ideias. Tanto que esse pedido das autoridades santa-marienses chegou ao governador Walter Jobim que, em poucos meses, apresentou a Lei nº 414, de dezembro de 1948, incorporando a Faculdade de Farmácia de Santa Maria a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E foi este passo, o de criar a Aspes, o primeiro movimento concreto para fundação da UFSM”.   A articulação política da fundação Luiz Gonzaga Isaia também salienta a participação do Tarso Dutra na criação da UFSM. Conforme o professor, Tarso mantinha um estreito contato com o Mariano, sabia de sua luta, como também das entidades católicas santa-marienses que aspiravam ao ensino superior na cidade. O professor considera como decisiva a atuação de Tarso no front político da criação da universidade santa-mariense. “Nos últimos meses de presidência, Jucelino Kubistechk manifestou a sua vontade de criar a Universidade Federal de Goiás e tomou as iniciativas cabíveis neste sentido. Foi então que o deputado Tarso Dutra tomou conhecimento do projeto, se uniu ao senador Daniel Krieger e, fazendo as coisas o mais reservadamente possível, conseguiram colocar uma emenda que criava junto a Universidade Federal de Santa Maria. As visões do Mariano haviam se concretizado.   O professor e a UFSM, nos últimos tempos. “Uma iniciativa que eu acho que a universidade deve ter hoje é colocar o nome do professor Mariano na entrada do campus. Nós aprovamos em Conselho que a Cidade Universitária seria chamada de Professor José Mariano da Rocha Filho. E isto não está muito divulgado e eu acredito deva ser feito. Concomitantemente, eu acredito que, sim, devemos também fazer uma homenagem ao Tarso Dutra. Depois de atuar politicamente na criação da UFSM, ele também, quando foi ministro da Educação, trazer para Santa Maria a Faculdade Interamericana, que influenciou positivamente na implantação e crescimento do Ensino Superior por aqui. O Tarso trabalhou, e muito, pela universidade.                

Gostou do Post? Compartilhe agora mesmo.