Amando nos 50, 60 e além

Conexão 60

Em meio a tantas cotidianidades, a vida, por vezes, parece se fazer mais clara quando se aproxima do clima natalino, com interpretações alegres que nos envolvem, embora nem sempre genuínas. No entanto, para aqueles que cruzaram a barreira dos 50, 60 anos, o amor assume uma textura diferente, mais madura e impregnada de significados que a juventude, por sua natureza, ainda não consegue compreender. O que percebemos, muitas vezes, é que o amor para esses longevos de hoje não se resume a um sentimento efêmero, mas a uma continuidade, a um entrelaçar de momentos que refletem o aprendizado das perdas, das alegrias, e dos encontros que marcam as histórias de uma vida.

Tento descrever essas cotidianidades do amor nos que já ultrapassaram a marca dos 50, 60 anos, sabendo que, ao mesmo tempo em que o corpo se transforma, a mente e o coração, esses espaços de tão diferentes interpretações, continuam a pulsar. Eles, que já viveram o turbilhão da juventude e as incertezas da meia-idade, agora encontram no amor um refúgio diferente, um lugar de acolhimento para suas memórias, seus erros e suas conquistas. Ao observar essas pessoas, percebo que o amor, para elas, é como um vinho amadurecido: não se trata mais de paixões avassaladoras ou expectativas irreais, mas de um caminho que se constrói com gestos diários, com a compreensão de que a intensidade está no compartilhamento da vida, e não nas promessas auto afirmativas.

Em muitas dessas vidas longas, o amor se distribui entre os pequenos gestos do cotidiano: o café compartilhado ao amanhecer, a caminhada juntos ao final da tarde, os sorrisos silenciosos que falam mais do que palavras. E, ao mesmo tempo, essas pessoas enfrentam desafios singulares. A solidão, por vezes, entra como um visitante indesejado, mas mesmo nela, o amor se reinventa, se adapta, e se faz presente. No silêncio da casa vazia, o amor não desaparece; ele se torna mais introspectivo, mais reflexivo, mas ainda assim fundamental. Nessa fase da vida, o amor não precisa ser eternamente jovem para ser pleno. Ao contrário, ele é mais capaz de aceitar imperfeições, de celebrar o que é autêntico e real. É como uma dança tranquila, em que cada passo, embora mais cauteloso, carrega a sabedoria do tempo.

Aquelas pessoas que passaram a vida se dividindo entre responsabilidades, trabalho e desafios, agora encontram no amor um espaço de reinvenção, um espaço onde se permitem viver novas formas de desafios. E é nesse espaço, entre a tranquilidade e a memória, que o amor se torna, para os longevos de hoje, não apenas uma emoção, mas a essência do que os mantém conectados com o mundo, com as pessoas e consigo mesmas. Porque, mesmo quando as cotidianidades nos parecem tão distantes, é o amor que, mesmo em seus pequenos detalhes, nos mostra que a vida segue, sempre com novas descobertas e possibilidades.

Ao olhar para essas idades, percebo que o amor não é mais um fim, mas uma jornada contínua, uma força que nos move, que nos reconecta com aquilo que somos e com o outro, em um cenário que, mais do que nunca, nos pede que amemos com a sabedoria do tempo vivido.

 

Caio Cesar Gomes

Psicólogo

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